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OS INVISÍVEIS #12

1 dezembro 2003


Título: OS INVISÍVEIS # 12 (Brainstore) - Revista mensal

Autores: Grant Morrison (roteiro) e Steve Parkhouse (desenhos).

Preço: R$ 7,90

Número de páginas: 24

Data de lançamento: Junho de 2003

Sinopse: A Melhor Queda - Bobby é um cara perfeitamente comum, e essa é a sua desgraça.

No conflito cósmico entre o bem e o mal, o que torna um cara "mau"? Uma vida "comum" demais? Uma pequena e não linear biografia de um guarda de segurança assassinado por King Mob revela novos e inesperados aspectos do universo de Os Invisíveis.

Positivo/Negativo: Esse é o tipo de história que chega a ser uma covardia para com o leitor, tal a forma incisiva com que penetra no inconsciente, fazendo os maiores estragos possíveis. A idéia não é nova, mas foi executada de maneira irretocável e criativa, o que torna essa HQ algo de especial.

Até que ponto temos o controle de nossas vidas? O que nos faz ser o que somos? Destino? Livre Arbítrio? Sorte e azar? Obviamente ninguém quer estar do lado dos maus. Na verdade, ninguém se considera mau. Mas o que é o mau, afinal de contas? Alan Moore, durante o lendário arco Gótico Americano, na revista Monstro do Pântano, já perguntara: "Onde está o mau na mata?". E o Deus do Pântano não encontrou uma resposta satisfatória.

E se nada disso tivesse o menor significado? E se a vida não for mais do que uma enorme cadeia de causas e efeitos? Nossa consciência é limitada por uma vivência linear do tempo: vivemos o momento, reagimos às circunstâncias e somos, quase sempre, incapazes de relacionar presente, passado e futuro, de modo a adquirimos uma compreensão mais abrangente de nós mesmos.

Assim, movemo-nos cegos pelo tempo, deixando que os acontecimentos nos moldem, independente de nossa vontade. E nos conformamos com frases como: "A vida é assim mesmo", "Fazer o quê?", "Não devo satisfações", "Eu sou o que sou" etc.

A narrativa não-linear de Morrison permite uma visão em perspectiva da vida de um homem, uma visão que o próprio Bobby jamais poderia ter, exceto talvez no momento de sua morte. Fragmentos de sua existência vão surgindo diante do leitor não em ordem cronológica, mas sim de acordo com a significância.

Eventos da infância se interligam com flagrantes do casamento, experiências de guerra mesclam-se com casos da adolescência, e por aí vai. Por fim, a vida se torna um prisma, no qual cada faceta reflete o brilho das demais, formando um todo que não pode ser compreendido apenas somando as partes.

O leitor se sente sufocado por uma sensação de inevitabilidade, embora não exista destino (nada na história indica isso). O que há é uma assustadora relação de causas e efeitos, na qual acaba sendo inevitável que Bobby - por ser a pessoa que é, devido aos fatos de seu passado - acabe reagindo de determinadas maneiras aos eventos que surgem em seu futuro. E vice-versa. Não há destino, mas tampouco há livre-arbítrio, e a vida de um homem não passa de um amontoado de eventos aparentemente sem significado.

Mas a inevitabilidade é apenas aparente. Fica claro que a tragédia de Bobby vem do fato de que ele apenas reage às circunstâncias. Reflete pouco, pensa de menos, move-se seguindo unicamente os impulsos e aceita as cartas que lhe são passadas sem questionar se deveria ou não estar jogando.

Quem acompanhar atentamente a história perceberá detalhes sutis, que levam a enormes reflexões: a mãe e a esposa de Bobby são muito parecidas, fato que ele nunca parece notar; após alistar-se no exército britânico, a primeira coisa que faz é comprar um maço de Marlboro; nos momentos em que se torna agressivo com a família, fica muito semelhante ao irmão mais velho, que o odiava; seu visual varia muito a cada época, e é sempre um retrato típico das tendências do período. E por aí vai.

Com esta edição (que encerra um ciclo de episódios fechados) Morrison leva a saga dos Invisíveis a um novo patamar. Uma história riquíssima, cujos significados penetram profundamente na cabeça do leitor, convidando-o a reflexões que, espera-se, o salvem de um "destino" tão trágico quanto o de Bobby.

Um destaque para os desenhos de Parkhouse, que conseguem transparecer o máximo de informações, com um mínimo de elementos em cada quadrinho; e para a seção Tinta Invisível, de Alexandre Mandarino, que continua cumprindo maravilhosamente a sua função de situar o leitor no universo de referências da série.

Classificação:

4,0

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