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OS INVISÍVEIS # 14

1 dezembro 2003


Título: OS INVISÍVEIS # 14 (Brainstore) - Revista Mensal

Autores: Grant Morrison (roteiro) e Jill Thompson (desenhos).

Preço: R$ 7,90

Número de Páginas: 24

Data de lançamento: Agosto de 2003

Sinopse: She-Man - Parte Dois - Dia dos Nove Cães - Continua o relato da sofrida iniciação de Lord Fanny, em meio a deuses e monstros da mitologia asteca.

No presente, Fanny cai na armadilha do assassino Brodie, enquanto King Mob e os demais Invisíveis têm presságios malignos.

Positivo/Negativo: Talvez o único elemento um tanto falho em Os Invisíveis fosse a caracterização dos personagens. Com exceção de Jack Frost, os demais membros da equipe de King Mob pareciam meras figuras estilosas, chamando a atenção pela excentricidade, mas sem personalidades definidas com as quais o leitor pudesse lidar.

Agora, Morrison está preenchendo esse vazio, revelando as origens secretas de seus "heróis". Bem ao estilo da série, claro.

Lord Fanny, o primeiro(a) a ficar na berlinda, revelou-se, nesse arco, como uma personagem forte e surpreendente, com algo de tragédia em sua natureza, uma tendência marcante para a autodestruição que a impulsiona, alucinadamente, para os limites mais extremos da existência, tanto material, quanto espiritual.

Morrison leva o leitor a adentrar o universo de Fanny, passado e futuro, jogando com o preconceito e oferecendo uma visão perturbadora e fascinante ao mesmo tempo. Cabe ao leitor decidir (por sua conta e risco) até que ponto permitir que a mente desvende esse universo.

Várias seqüências são de uma beleza e complexidade espantosa (embora possam parecer tolas ou ridículas para mentes por demais impermeáveis). Destaque para o ritual de transformismo de Fanny diante do espelho, nas páginas 6 a 8 da edição anterior, nas quais magia, poder, auto-aceitação, narcisismo e angústia se mesclam de forma atordoante. E também para a revelação de seu destino, na página 25 deste número, que (como num caleidoscópio de referências e citações) evoca um trecho de um discurso de John Constantine a respeito de seu amigo Gary Lester (no lendário Hellblazer # 2 americano): "Ele não entenderia... como algumas pessoas são condenadas desde o começo. Como elas devoram a si próprias buscando a aniquilação."

MictlantecuhtliA HQ ainda permite uma "viagem" e tanto pela intrigante mitologia asteca, de uma maneira raramente vista nos quadrinhos (e em quaisquer mídias), repleta de deuses estranhos e fascinantes. Quem quiser se aprofundar no assunto vai achar um bom ponto de partida no site Encyclopedia Mythica.

É interessante a maneira como Morrison têm mesclado inúmeras mitologias, tradições, ordens místicas e tipos excêntricos, na forma de uma mirabolante teoria da conspiração que engloba todas as teorias de conspirações em seu interior.

Cenas como o diálogo de King Mob com o estranho hippie das páginas 12, 13, 16 e 17 (um personagem que já apareceu duas vezes antes, números 5 e 8, porém com uma forma diferente) demonstram muito bem essa idéia.

Os desenhos de Jill Thompson melhoraram muito em relação ao arco Arcádia. Seu estilo camaleônico, que bebe de inúmeras fontes e referências para melhor se adaptar aos diferentes "climas" que Morrison impõe, resultou numa seqüência de imagens hipnotizantes.

Uma curiosidade: em vários momentos, a imagem da avó de Hilde escondida nas sombras torna-se quase idêntica à personagem Desespero, de Sandman, que Thompson desenhou durante saga Vidas Breves. Coincidência ou uma citação intencional da artista?

Outro destaque deve ser dado às magníficas capas de Sean Phillips, cuja força, beleza e expressividade valorizam ainda mais a publicação. Tomara que Os Invisíveis tenha vindo mesmo pra ficar, e a Brainstore não interrompa o título antes do fim de suas três séries (a primeira com 25 números, a segunda com 22 e a terceira com 12).

Classificação:

4,0

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