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Osmose - Brasil e Alemanha em quadrinhos

18 outubro 2013

Osmose - Brasil e Alemanha em quadrinhosEditora: Libretos  – Edição especial

Autores: Mawil, Paula Mastroberti, Birgit Weyhe, Amaral, Aisha Franz e João Montanaro (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 32,00

Número de páginas: 88

Data de lançamento: Setembro de 2013

Sinopse

Seis quadrinhistas, sendo três brasileiros e três alemães, realizaram um intercâmbio artístico por quatro semanas, em cidades nas quais nunca estiveram, para criar uma história em quadrinhos sobre as experiências longe de casa.

Positivo/Negativo

Na Biologia, osmose é o fenômeno que se produz quando dois líquidos, de desigual concentração, separados por uma parede mais ou menos porosa, a atravessam e se misturam.

O projeto homônimo, idealizado e coordenado pelo Goethe-Institut Porto Alegre, resulta nas experiências de artistas de várias faixas etárias, que ultrapassaram as fronteiras de seus países para “misturar” e traçar suas perspectivas inseridas em uma nova cultura, língua, clima, paisagens e sensações.

Integrando as comemorações da Temporada Alemanha + Brasil 2013-2014, o projeto contou com a curadoria do jornalista especializado em quadrinhos e tradutor Augusto Paim e a coordenação editorial do quadrinhista José Aguiar, cocriador do Gibicon – Convenção internacional de quadrinhos de Curitiba.

O luxuoso volume em capa dura conta com seis histórias de dez páginas cada uma, de um trio brasileiro e outro trio alemão, que trocaram de cidades por um mês, no segundo semestre de 2012.

A gaúcha Paula Mastroberti trocou Porto Alegre por Berlim, enquanto o alemão Mawil fez o itinerário inverso. Birgit Weyhe saiu de Hamburgo (destino do piauiense Amaral) para São Paulo. Já a alemã Aisha Franz trocou Berlim por Salvador e o jovem paulista João Montanaro deixou momentaneamente a “terra da garoa” e foi para Munique.

O resultado é um caleidoscópio colorido e em preto e branco norteado por vários estilos, direções e narrativas (documentais e ficcionais).

Quem abre o álbum é o berlinense Markus Witzel, conhecido como Mawil, único do trio alemão que já teve uma obra publicada no Brasil, Mas podemos continuar amigos (Zarabatana).

Na figura do baixinho Supa-Hasi (“super-coelho”), representado seu alter ego, o quadrinhista conta com bom humor sua passagem por Porto Alegre, onde questiona como o Goethe-Institut Porto Alegre ganha dinheiro por só verem gastarem com sua estada, elogia as paisagens naturais, fica desconcertado e surpreso por ser reconhecido em virtude da HQ Mas podemos continuar amigos e observa semelhanças entre os países.

Inspirada no conto Rosa Branca e Rosa Vermelha, dos irmãos Grimm, que a gaúcha Paula Mastroberti mostra sua visão da capital alemã. Unindo colagem e desenho, a autora faz sua dinâmica e surreal versão sem as amarras do documental.

Já Birgit Weyhe faz uma pegada mais antropológica e visceral de São Paulo, mostrando suas dez verdades sobre a metrópole brasileira. Muito inventiva, a alemã mostra um panorama de vários aspectos sob a ótica de uma estrangeira: a beleza e a feiura da selva de pedra, o barulho da cidade, seja do trânsito ou dos pássaros matutinos, os gostos e a comunicação.

O que mais se destaca na narrativa de Weyhe é seu questionamento histórico e antropológico presente na arquitetura e nas divisões de classes da “pauliceia desvairada”. A artista radiografa uma reflexão desde a presença de monumentos aos colonizadores até a ausência dos negros em castas sociais ou na ditadura da moda e da publicidade.

Representante nordestino no projeto, Antônio Amaral faz da sua experiência em Hamburgo uma extensão de seu trabalho experimental, visto em obras como a premiada Hipocampo.

Suas cores vibrantes e quentes fazem de suas abstratas páginas uma visão poética – mais sentida do que entendida – da cidade alemã. Uma grande experiência sensorial com a sempre ousada diagramação do piauiense.

Única história sem texto, a janela da alemã Aisha Franz, de Salvador, mistura um mosaico de brasilidades. O seu “fluxo narrativo” lembra um pouco a xilogravura do cordel e a arte naïf, ambas bem presentes na cultura nordestina.

Por fim, João Montanaro foi o único dos brasileiros que optou por uma HQ mais documental, com seu corriqueiro humor contrabalanceando com suas impressões (mais sérias) de Munique.

Os destaques são a sua forma despojada de retratar a cidade e a maneira criativa de narrativa (uma splash page mostra a complexa arquitetura de Marienplatz, uma praça do centro da cidade, e o “desanimado” quadrinhista se queixando de como é difícil desenhar o lugar).

Flertando também com as diferenças culturais, o “cidadão do Terceiro Mundo” pontua como os alemães lidam com a memória e a educação em relação ao Brasil.

Completando a edição bilíngue, uma apresentação de José Aguiar e um posfácio do curador Augusto Paim sobre como foi a metodologia aplicada para a seleção, ilustrado com estudos, esboços e artes do sexteto.

Além da obra impressa, cada quadrinhista abasteceu um blog do projeto com textos, artes e fotos durante suas experiências, complementando os bastidores do conteúdo produzido de Osmose.

Classificação

4,5

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