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OVELHA NEGRA - A REVISTA QUE O BRASIL NÃO LEU

1 dezembro 2012

OVELHA NEGRA - A REVISTA QUE O BRASIL NÃO LEU

Editora: Independente - Edição especial

Autor: Ricardo Tokumoto e Daniel Werneck (texto e arte).

Preço: R$ 25,00

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Outubro de 2011

 

Sinopse

Documentário afetivo sobre uma revista de quadrinhos que teria existido em Belo Horizonte nos anos 1960, contando a trajetória de seus editores e artistas, e mostrando como o contexto social e histórico do Brasil foram alterando o funcionamento da publicação.

Positivo/Negativo

Produzir histórias em quadrinhos e ganhar a vida com elas nunca foi tarefa fácil.

Desde o início da indústria da nona arte, nos anos 1930, a situação é complicada. Vide a via crucis de Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Superman, que ralaram pra caramba e viram apenas a National (antigo nome da DC Comics) ganhar gordos dividendos com as histórias e a imagem de seu personagem.

Imagine fazer quadrinhos no Brasil, em plena ditadura militar, como o fizeram os integrantes do Pasquim e tantos outros periódicos empastelados ou autoboicotados que não sobreviveram.

Visando resgatar uma parte de nossa memória adormecida, prestando homenagem a esses bravos e destemidos quadrinhistas anônimos, Daniel Werneck e Ricardo Tokumoto (o Ryot) debruçaram-se numa ousada pesquisa criativa.

Produzindo uma espécie de mockumentário em quadrinhos, Werneck e Tokumoto deram vida a 12 autores e seus respectivos personagens (Ovelha Negra, Adriano - o capetinha barra-limpa, O Agente Zero-Zero-Zé, Os Meteoros, Colorado Kid, Trincheira 17, Urubu Rei & Cristiano, Sir Roderick, O Pato Pateta, Capitão Raio-laser e Crás, Bang & Boom), apresentando a revista Ovelha Negra às novas gerações.

Segmentando o livro em capítulos que retratavam a realidade de cada período vivenciado pela Ovelha Negra, indo de 1959 até o início dos anos 1970, trazendo textos introdutórios, documentos do DOPS, propagandas, trabalhos incompletos, biografias dos artistas fictícios, e analisando as páginas e capas das HQs publicadas no periódico, os autores constroem uma narrativa envolvente, em que o leitor facilmente compra cada uma das suas palavras (até chegar no posfácio, quando eles abrem o jogo).

Tomando como referência as temáticas e os materiais usados na segunda metade do Século 20, sendo as tiradas satíricas da revista Mad o aporte central, os autores passaram oito meses produzindo o livro, valendo-se apenas de lápis, pincel e nanquim para, além de criar as histórias, adulterar textos de páginas de HQs e tiras famosas, e fazer montagens com imagens de arquivo.

Boa parte do processo de produção da Ovelha Negra pode ser conferido no site do coletivo Pandemônio Comix.

O exercício de construção das biografias, do traço e da proposta de cada um dos 12 artistas (e seus personagens), é louvável; assim como todo o cuidado com o vocabulário e as gírias do período retratado.

Encerrando o livro, há um capítulo especial, no qual artistas como Luciana e Vitor Cafaggi, Mário Cau, Danilo Beyruth, Udan, Hemeterio, Luis Felipe Garroucho, Cristina Eiko, entre outros, homenageiam seus personagens preferidos.

Ovelha Negra é um dos trabalhos mais originais da atual safra dos quadrinhos nacionais independentes.

Após finalizar a leitura, não tem como não conjecturar sobre o quão bacana teria sido se essa revista tivesse existido de verdade.

 

Classificação:

4,0

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