Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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PLANETARY – O QUARTO HOMEM

1 dezembro 2008

Autores: Warren Ellis (roteiro) e John Cassaday (desenhos).

Preço: R$ 42,00

Número de páginas: 200

Data de lançamento: Março de 2006

Sinopse: Os arqueólogos do Planetary prosseguem em sua jornada, desvendando os segredos do Século 20 e o mistério do Quarto Homem.

Positivo/Negativo: Avaliar Planetary é uma tarefa árdua e penosa. Não apenas por ser uma série excelente ou por ser muito detalhada, mas pelo fato de estabelecer seus limites fora das escalas normais das histórias em quadrinhos.

Os personagens são Arqueólogos do Impossível, descobrindo a história secreta do Século 20. Em cada história, Ellis e Cassaday referenciam e reverenciam importantes marcos culturais ao longo deste período e do passado. Contos pulp, o Quarteto Fantástico, a invasão britânica da Vertigo, o cinema "B" de ficção americano dos anos 50 e o mito do super-espião. Essas são alguns dos focos que compõe esse mosaico que são as edições de Planetary.

Como cita Joss Whedon, autor de Buffy e de Surpreendentes X-Men (obra que também conta com desenhos de Cassaday), em sua introdução: "Olhe para as capas. O logo. Nunca se repetem. Cada edição conta a sua fascinante narrativa curta que vai segurar o leitor mesmo que ele não saiba que ela faz parte de algo maior".

Enquanto a série toma forma e as homenagens são prestadas, a narrativa e a arte enriquecem as referências, fazendo com que não estejam lá por serem bonitas e chamativas, nem um jogo para intelectuais acharem citações obscuras. Tudo faz parte de um enredo complexo e envolvente.

Ellis se aproveita dessa estrutura para ir inserindo novos personagens e mistérios, sem nenhuma reserva ou receio de extrapolar nesse ou naquele ponto: é tudo na medida. Já o traço de Cassaday mostra sua evolução no decorrer das edições, emulando alguns estilos e praticamente recriando-se em muitas das faces da série.

Também vale citar que este volume é referencial à passagem de Ellis pela Wildstorm e alguns de seus títulos. Na primeira história, O Bom Doutor, Elijah Snow conversa com a versão de Doc Savage do título, Axel Brass, que além de mesclar uma estrutura pulp com os quadrinhos, lembra ao leitor que ele está no mesmo universo em que Demonitas guerreavam contra Kherubins, e que a Terra estava sob o jugo do Authority.

No decorrer do encontro dos centenários, Snow exibe um vídeo no qual aparece Jenny Sparks, a líder do Authority na época, e cita John Cumberland, um super-humano conhecido como High (Elevado, em uma tradução livre). Aqui cabe uma explicação: no arco final de Stormwatch, inédito no Brasil, John se reúne com outros superseres com o intuito de mudar o mundo, livrando a terra do crime, posses, capitalismo e religião (uma das cenas mostra o Cristo Redentor sendo completamente obliterado).

Com inveja destes planos, Henry Bendix, líder do Stormwatch, joga um grupo contra o outro, matando quase todos no final. Dos remanescentes desse massacre se forma o Authority.

Em seqüência, o leitor é apresentado aos grandes vilões de toda a saga. Os Quatro, como são chamados, são mostrados como a mais completa antítese do que é o próprio Planetary: em vez de descobrir as maravilhas do século, para usar de forma benéfica ao mundo, eles dominam secretamente o planeta, mantendo em segredo e sob seu poder quaisquer benesses encontradas. Fica óbvio também que Os Quatro são a versão maligna da família fantástica criada por Stan Lee e Jack Kirby.

Também há neste álbum referências que aparecem posteriormente em especiais da série. Em O dia que a terra quase parou, é mostrada a Cidade Zero, lar de experiências dos Quatro com cobaias humanas, que é mencionada em Planetary e Batman - Noite na Terra, além de uma citação a eventos ligados em um crossover com o Authority, em uma edição ainda inédita no Brasil.

Vale frisar que existem textos explicativos no final de cada história, levando aos leitores muitas informações sobre as influências que compõe a edição. Dessa forma, a "degustação" das aventuras não acaba na última página, e continua ao se transmitir fatos que podem passar despercebidos e que, com certeza, despertam a vontade de voltar e reler algumas passagens.

Em relação ao trabalho editorial da Devir, o que se nota logo de cara é a diferença para o primeiro encadernado. O formato diminuiu do americano para 16,5 x 24 cm, o número de aventuras subiu de quatro para oito e a impressão está levemente borrada. No entanto, nada que comprometa muito a arte e a coloração.

Infelizmente, Planetary foi uma das séries que mais sofreu com alterações em sua publicação nacional. Primeiro em mensais pela Pandora Books, depois em dois encadernados em formatos diferentes pela Devir, e por fim na revista mix Pixel Magazine, da Pixel Media.

Com essas variações todas, muitos leitores desistiram de colecionar a série, o que é uma pena, pois por seu valor e qualidade além dos padrões habituais da nona arte Planetary merecia um tratamento um pouco mais digno.

Mesmo assim, o brilhantismo de Ellis e Cassaday com essas histórias estupendas prevalecem neste encadernado de boa qualidade, em que as referências culturais criam um panorama único, como um reflexo composto de pedaços de nossa própria realidade.

Classificação:

4,0

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