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Planetary – Volume 1 – Pelo mundo todo e outras histórias

13 dezembro 2013

Planetary – Volume 1 – Pelo mundo todo e outras históriasEditora: Panini Comics – Edição especial

Autores: Warren Ellis (roteiro), John Cassaday (arte), Laura Martin e David Baron (cor).

Preço: R$ 21,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento: Novembro de 2013

Sinopse

A organização Planetary está interessada em mapear a história secreta do Século 20. Para isso, sua equipe de campo, composta por Jakita Wagner, Elijah Snow e Baterista, vai viajar o mundo inteiro investigando casos.

Positivo/Negativo

A velocidade, fator típico no Século 20 que o Planetary investiga, é muito valorizada nas artes desde o modernismo. Há leitores que defendem que a boa leitura é aquela que flui rápida. Felizmente, Warren Ellis discorda. O experiente roteirista inglês sabe que fluência é uma característica, não uma obrigação.

Ressalte-se que Planetary não é uma HQ truncada e arrastada, mas um poço de referências. E a melhor leitura dessa série só acontece quando o leitor se entrega a entender os detalhes.

Já começa pelo título: Planetary – Arqueólogos do impossível. Arqueólogos? E do impossível? A primeira dúvida já está ativa na mente de quem enfrentará a leitura. A seguir, vêm as capas (sabiamente colocadas antes de cada edição, e não no final do encadernado). Cada uma tem uma forma diferente pro título e uma configuração diferente. Não há unidade visual na coleção; há unidade temática.

Um arqueólogo quer descobrir o passado, estudar o que veio antes na História. Qual seria o passado do impossível?

No próximo parágrafo virão detalhes sobre o enredo da primeira história. Se você acha importante não saber nada antes de ler, pare por aqui.

A primeira edição de Planetary mostra a entrada de Elijah Snow na equipe. Em uma visita a uma montanha afastada que, descobre-se no andar da trama, era a base de uma equipe de super-heróis da década de 1940. Reconhece-se facilmente os arquétipos de personagens pulps, como Doc Savage, Sombra e Fu Manchu.

Após descobrirem que o universo tem 196833 dimensões (isso será retomado muitas vezes na série), esse grupo resolve consertar o mundo (está tudo bem explicado na HQ, leia lá). Porém, outro grupo de superseres (em tudo similar à Liga da Justiça) invade a realidade dos heróis pulps e, após uma intensa batalha entre eles, Axel Brass é o único sobrevivente.

Mas os heróis pulps foram exterminados pelos super-heróis de uniforme colorido da DC. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, o pulp perdeu as bancas e a vez para os supers. O único sobrevivente ficou esquecido por mais de 50 anos.

A segunda aventura se passa numa ilha entre Rússia e Japão, e envolve monstros gigantes; a terceira trata de uma história de vingança e violência de um fantasma em Hong Kong; a quarta é uma homenagem ao Capitão Marvel (DC Comics); a quinta novamente sobre os pulps; e a sexta é o surgimento dos arquivilões do Planetary, os 4, uma versão maligna do Quarteto Fantástico da Marvel. Encerra a edição uma história curta sobre um cientista capaz de virar um monstro gigante depois de uma explosão atômica.

De modo similar à Liga Extraordinária,de Alan Moore e Kevin O’Neil, Planetary incorpora uma quantidade fabulosa de elementos dentro de uma mesma realidade e lhes dá coerência. Cada capa e enredo é sobre um tipo de narrativa pop do Século 20 e é isso que Jakita, Baterista e Snow investigam: ficções.

Ora, existe algo mais impossível que uma ficção? Mesmo quando baseadas em “fatos reais” (expressão por si só passível de muita discussão), as histórias se ficcionalizam em maior ou menor grau. As histórias representam e dão vida às ideias, ao que não há no mundo, ao que não pode (portanto, não é possível). As histórias são a encarnação da impossibilidade, da invenção e da criação. E são elas os que os membros do Planetary usam pra desvendar a história oculta do Século 20.

Dentro dessa leitura, a história oculta do Século 20 é a história das histórias. E é por isso que super-heróis coloridos lutam com heróis pulps. É por isso que os 4 têm sua origem no mesmo ano da publicação do Quarteto Fantástico, 1961. Desse modo, os personagens da Marvel ou DC representam os inimigos, porque eles chegam, fazem sucesso e se tornam regra, substituindo e aniquilando seus antecessores. Eles acabam com o espaço do impossível e da criação. Não pode haver piores vilões.

Tudo isso está nas páginas de Planetary, não são pistas ou truques, são informações essenciais à trama. Basta que o leitor as busque. Quem estiver lendo apressado, ainda encontra boas histórias de super-heróis, lindamente desenhadas pelo John Cassaday, mas perde tudo que torna essa série fantástica.

A tradução do final da terceira história, na luta pra manter uma assonância (“justiça” com “justo isso”), matou um dos sentidos de uma frase (“Just us”’, que ressoa com “justice”) que serve muito bem como fechamento para este texto: “Vocês aí vieram por um mistério. Mas não há nenhum. Só nós. Apenas nós.”

Classificação

5,0

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