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PRELÚDIO PARA A CRISE FINAL # 7

2 outubro 2009


Autores: Testemunhas (The death of the New Gods # 4) - Jim Starlin (texto e desenhos), Art Thibert (arte-final) e Jeromy Cox (cores);

Volta ao lar (Countdown for adventure # 4) - Adam Beechen (texto), Allan Goldman (desenhos), Júlio Ferreira (arte-final) e Tanya e Richard Horie (cores);

Batedora (Countdown for adventure # 4) - Justin Gray (texto), Fabrizio Fiorentino (desenhos), Adam DeKraker e Tanya e Richard Horie (cores);

A busca por Ray Palmer (The search for Ray Palmer - Gotham by gaslight) - Brian Augustyn (texto), Greg Tocchini (desenhos), Jesse Delperdang, Derek Fridolfs, Paul Neary (arte-final) e Rod Reis (cores).

Preço: R$ 7,50

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Março de 2009

Sinopse: Testemunhas - Superman, Senhor Milagre e Órion finalmente encontram o Povo da Eternidade. Mas eles, como vários outros Novos Deuses, estão mortos.

Volta ao lar - Na Terra, Homem-Animal e Estelar precisam deter as hordas enlouquecidas pelo misterioso vírus. Em Rann, Adam Strange se defenestra para escapar do Campeão.

Batedora - As diferenças entre Batedora e o Monarca se tornam insustentáveis.

A busca por Ray Palmer - No mundo vitoriano de Gotham City 1889, Kyle Rayner, Donna Troy, Jason Todd e o Monitor renegado enfrentam, ao lado de Batman, um morcego gigante.

Positivo/Negativo: Prelúdio para a Crise Final é uma revista de histórias inéditas, mas de ideias reprisadas.

As quatro minisséries publicadas atualmente estão lotadas de clichês, de argumentos batidos, de situações já vistas em dezenas de outros títulos. A criatividade dos autores parece estar apenas em encontrar novas formas de retomar velhos conceitos.

Os exemplos estão espalhados por toda a revista.

Na página 3, se vê o Senhor Milagre de roupa nova. Como a maioria dos heróis já fez - Superman, Batman e Homem-Aranha entre eles -, Scott Free trocou a cor do uniforme para expressar luto. O novo traje, diga-se de passagem, é pródigo em sua feiura.

Na página 9, o Senhor Milagre troca de roupa de novo. Desta vez, cobre o corpo de preto cheio de estrelas - no rastro de dúzias de outros personagens. Donna Troy e Starman são apenas dois exemplos.

Na página 11, o mesmo Senhor Milagre transforma o Povo da Eternidade em uma espécie de zumbis e os faz memorar sua morte.

Na página 29, o Senhor Milagre participa de mais uma cena bizarra. Sentado em um banco de praça, lamenta a morte da mulher cerrando os punhos e rangendo os dentes.

Além disso, o escritor Jim Starlin presenteia o leitor com uma coleção de frases melodramáticas como "Não deixa as aparências te enganarem, Superman" (P. 3), "Apareçam, assassinos!" (P. 4), "Alguém pagará com sangue este ultraje" (P. 6), "Nossa atual situação é tão crítica que precisamos tomar medidas extremas" (P. 9), "Ninguém vai negar minha vingança!" (P. 10), "A morte é uma empreitada solitária" (P. 18) e por aí vai até o final - embora seja impossível deixar passar em branco o pavoroso texto do monólogo de Scott Free na página 29.

Uma das situações mais desgastadas das histórias de super-heróis e ficção científica são as cidades isoladas por campos de força em forma de cúpula. A situação só é pior quando são discos voadores pilotados por alienígenas arrogantes.

Mas é justamente esse o recurso que Adam Beechen usa em Volta ao lar, segunda história da revista.

Só que, no mundo dos super-heróis, a as histórias ruins sempre podem piorar. Por isso, Beechen encheu essa cúpula com outro clichê do mundo dos super-heróis: a horda de humanos inocente e ensandecida por um vírus extraterrestre - e por causa dele, os caras não podem ser espancados pra valer.

Que porcaria, hein? E olha que essa é a melhor HQ desta edição, com bons desenhos e algumas sequências que até empolgam.

Melhor seria ignorar a série Batedora. Afinal, ela é tão tosca que a moça de pele azul e orelhas pontudas (como Noturna, dos Exilados) enfrenta uma mulher de, veja só, orelhas pontudas e pele azulada! Tudo em prol de um plano maior que, no fim das contas, não vai levar a lugar algum.

A história é tão, mas tão ruim, que inclui ainda uma lição de combate canastrona tipo Karatê Kid: "Quando vocês olham pra esta pedra, só veem a superfície. É um obstáculo no seu caminho e sua mente determina que ela é sólida. Treinem suas mentes pra não pensarem no alvo como um objeto imóvel. Onde se vê pedra sólida, eu enxergo um caminho através dela", diz a guerreira - um pouco antes de levar uma cantada de uma versão nazista de Batman!

Se o problema de Prelúdio para a Crise Final é reutilizar mal velhas ideias, A busca por Ray Palmer pode ser considerada a série-símbolo da revista.

Seu mote parece ser o de levar três super-heróis que foram maltratados por roteiristas em anos recentes para se vingarem, tendo sua chance de castigar histórias consagradas do passado da DC.

A ideia também não tem nada de original. O argumento é muito parecido com o da série Exilados, da Marvel - e também tem semelhanças com a nova série do Gladiador Dourado.

Na edição anterior, foi a vez de Chuva Rubra, uma boa e velha graphic novel (publicada no Brasil como minissérie) em que Batman é um morcego. Desta vez, a vítima é a divertida Gotham City 1889.

O curioso é que o autor desta aventura de quinta é o mesmo da revista original. Possivelmente por isso o roteiro seja tão medonho: fica-se com a impressão de que Augustyn fez um sacrifício para garantir que não sobraria nada do original pra ser reaproveitado por outra pessoa. Talvez não seja acaso o fato de o roteiro contemplar um invasor virulento em um dos personagens.

O fato é que o trio de heróis que protagoniza a série é péssimo. São personagens que perderam sua função na DC ao ficarem espremidos entre seus mentores (Batman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde) e seus sucessores (Tim Drake, Moça-Maravilha e o ressuscitado Hal Jordan). Para piorar, o time criativo não conseguiu criar uma química entre eles - que, por sua vez, não se entrosam com os mundos que visitam.

A arte parece reforçar essa percepção: o traço do brasileiro Greg Tocchini é excelente para retratar os elementos vitorianos, mas o quarteto invasor não leva jeito de pertencer àquele mundo.

Sem ideias novas, Prelúdio para a Crise Final patina em torno de seus próprios defeitos. É uma revista, portanto, que tem dificuldade de mostrar sua relevância. A sensação é de que se trata de pura enrolação.

Não por acaso, suas séries estão entre aquelas que são avaliadas como causadoras da má fase por que passa a DC Comics.

 

Classificação:

4,0

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