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REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 EM QUADRINHOS

3 setembro 2009

Autor: Maurício Pestana (texto e arte).

Preço: R$ 12,00

Número de páginas: 32

Data de lançamento: Julho de 2009

Sinopse: Dois garotos leem e trocam ideias a respeito da Revolução Constitucionalista de 1932.

Positivo/Negativo: Em meados deste mês, o álbum Revolução Constitucionalista de 1932 ganhou um reforço em sua divulgação. Foi do governador de São Paulo, José Serra, que classificou a HQ como "ótima" em seu perfil do microblog Twitter.

Em tempo: a Imprensa Oficial, editora do álbum, só é "oficial" porque pertence ao governo de São Paulo - que justamente está sob o comando de José Serra. Ao elogiar o álbum, o governador, mesmo que munido das melhores intenções, acabou falando bem de sua própria administração.

Só que autoelogio não vale.

Ainda mais porque o mesmo Serra tinha falado mal de outra HQ no mês anterior. O governador disse, em entrevista à Rede Globo, que o álbum Dez na área, um na banheira e ninguém no gol era de "mau gosto" - pra resumir a celeuma: porque o livro protagoniza um escândalo da Secretaria Estadual de Educação.

Até pra tentar entender os critérios do governador, vale a pena se debruçar sobre o álbum de Mauricio Pestana. Sem critérios político-partidários

Revolução Constitucionalista de 1932 tem como protagonistas um garoto e uma garota que estão nos dias atuais.

Na primeira página, o garoto (com cabelo rastafári e um chapéu nas cores da Jamaica) diz: "Revolução Constitucionalista de 1932. Sempre quis saber sobre nossa participação neste acontecimento. Você me conta?".

A garota, com papéis debaixo do braço e acenando uma bandeira do Estado de São Paulo, responde: "Conto, sim. Em 9 de julho de 1932 eclode, em São Paulo, a Revolução Constitucionalista, tendo como principal objetivo restaurar a democracia, a liberdade e a justiça no Brasil. Para combater os constitucionalistas, são enviadas tropas federais, lançando o País no maior conflito armado da nossa história com participação de civis."

Em volta dos dois, cenas da revolução surgem - desenhadas a partir de fotos antigas.

Nas páginas seguintes, as crianças continuam lendo e conversando sobre a revolução. E mais cenas históricas são mostradas. A narrativa segue assim até o final.

A descrição basta para apontar os principais problemas da obra.

O mais marcante é o fato de a HQ ter uma narrativa paupérrima. São apenas duas crianças conversando o tempo todo, cercadas de imagens relacionadas com o diálogo. Não há cenas de ação. Não há textos para os protagonistas da revolução. O passado é mostrado somente com painéis soltos, isolados, produzidos a partir de fotografias.

Os garotos, aliás, falam com um texto duro, como o dos trechos acima reproduzidos. Usam palavras, expressões e estruturas pouco comuns não só aos jovens, mas também à linguagem oral em geral, como "eclode", "disseminar", "angariar" e por aí vai.

Nem parece um papo entre dois amigos!

Aliás, as falas da garota parecem mais um verbete de enciclopédia sobre a revolução do que um diálogo.

Apesar de ter uma arte bastante razoável, a HQ carece de ritmo, de graça e de atratividade. Ao tentar ser didático, o álbum acaba sendo burocrático, travado e, enfim, chato!

Seu maior mérito é ser curto - a leitura acaba logo e não chega a se tornar um fardo. Embora, olhando de um jeito leigo, essas características não pareçam ser as mais adequadas para um livro destinado aos jovens.

Infelizmente, Maurício Pestana caiu em diversas armadilhas e não conseguiu fazer uma HQ empolgante. No fim das contas, a Revolução de 1932 ainda carece de uma quadrinização decente.

Quanto ao governador Serra, só se pode lamentar. É uma pena que, com tanta HQ boa, um homem tão ocupado gaste seu pouco tempo livre com um álbum tão fraquinho.

Classificação:

4,0

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