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SALON

3 setembro 2009


Autores: Nick Bertozzi (texto e arte), com tradução de Cláudio Figueiredo - HQ originalmente publicada no álbum The salon.

Preço: R$ 39,90

Número de páginas: 184

Data de lançamento: Março de 2009

Sinopse: Uma série de assassinatos de artistas alvoroça a Paris de um século atrás - envolvendo moradores célebres como Pablo Picasso, Satie, Matisse, Gauguin, Braque, Apollinaire, Gertrude e Leo Stein, Alice B. Toklas e uma misteriosa tinta azulada.

Positivo/Negativo: À primeira vista, Salon pode dissuadir o leitor a crer que se trata de mais uma dessas tramas da moda, de apelo fácil, em que personagens históricos são envolvidos em mistérios escabrosos e acabam fazendo as vezes de detetive. É um gênero que se alastra aos poucos pelas prateleiras das livrarias: uma hora é Leonardo da Vinci investigando assassinatos, noutra aparecem Einstein ou Freud resolvendo roubos.

Mas o álbum de Nick Bertozzi não entra nesse balaio. É bem verdade que há uma série de crimes como estopim da trama - assassinatos que deixam como marca uma misteriosa tinta azulada. Também é fato que os personagens são, quase todos, figuras centrais das artes de Paris de um século atrás, gente envolvida com revoluções estéticas como o cubismo.

O que tira Salon da vala comum da ficção de suspense criada a partir da história é a intenção de Bertozzi. No álbum, a busca pelo assassino fica em segundo plano. O que importa é levar o leitor a um mergulho no mundo das artes, nas relações entre os artistas e no pensamento de cada um deles. O cotidiano acaba se tornando mais relevante que o lado espetaculoso dos crimes - que, no fim das contas, não passam de uma parábola do que a cidade está vivendo.

Meticuloso, Bertozzi faz com que a importância das artes visuais na trama também se reflita nos detalhes da seu próprio desenho; vide os olhos de seu Picasso - gritantemente inspirados nas obras do pintor.

A seleção de cores, sempre poucas por página, é simples, mas consistente - e o traço azul de algumas cenas acaba fazendo muito mais sentido no final.

Tudo facilita para que o leitor se contamine pelo universo encantador da trama. Mas, para curtir, é preciso uma contrapartida. Salon exige um certo grau de conhecimento sobre os artistas e o período em que a trama se passa.

Afinal, Picasso é um nome popular e seu Les demoiselles d'Avignon dispensa apresentações, mas talvez não se possa tomar por pressuposto que o leitor de quadrinhos brasileiro tenha a mesma familiaridade com Braque, Satie ou Apollinaire.

E é aí, justamente nesse ponto, que um glossário de artistas, algumas notas ou um artigo sobre o período talvez fizessem alguma diferença (embora seja difícil imaginar o que algum leitor sem afeição alguma por esse pedaço da história das artes estaria fazendo com Salon nas mãos).

De qualquer maneira, o resultado é um álbum muito sólido e bem amarrado.

E, convém registrar, é também uma bela estreia para a linha internacional da Desiderata - que, até a recente aquisição pelo grupo Ediouro e transformação em selo da Agir, publicava exclusivamente material brasileiro.

 

Classificação:

4,0

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