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Shangri-la

25 maio 2018

Shangri-laEditora: Label 619 – Edição especial

Autor: Mathieu Bablet (roteiro e arte) .

Preço: € 19,90.

Número de páginas: 224

Data de lançamento: Setembro de 2016

Sinopse

Centenas de anos no futuro, a humanidade vive em uma estação espacial governada por uma multinacional, e todos parecem satisfeitos com esta "sociedade perfeita".

Neste cenário, alguns cientistas lutam para ultrapassar seus limites e se tornarem deuses. Assim, eles põem em prática um programa destinado a criar vidas em laboratório, com o intuito de enviá-las para Shangri-la, uma das regiões mais hospitaleiras de Titã, uma das luas de Saturno.

Positivo/Negativo

Shangri-la, do quadrinhista francês Mathieu Bablet, será lançado  pela SESI-SP ainda em 2018. Após a leitura, há um longo processo de digestão mental do conteúdo, pois é uma história densa e radical.

O planeta Terra foi devastado e tornou-se inabitável. A humanidade, dessa forma, passa a viver em uma estação espacial que é gerenciada pela multinacional Thianzhu. Essa empresa criou um ambiente que consegue suprir todas as necessidades de seus moradores, incentivando o consumo desenfreado e doentio.

O protagonista é totalmente convencido da qualidade de vida que a estação proporciona, mas ao longo da trama conhece um grupo de revolucionários que possui um olhar diferente sobre Thianzhu.

Enquanto isso, a empresa anuncia um novo projeto, que consiste em criar vidas humanas, dentro do laboratório, com o objetivo de enviá-las para Titã, uma lua de Saturno. Os contrários aos planos da empresa iniciam uma resistência para impedir a alucinada ambição dos gerenciadores dessa sociedade.

Há muita pesquisa científica em andamento. Em uma delas, os cientistas desenvolveram uma raça de animoides que vive na estação com os humanos.

No entanto, essas criaturas acabam se tornando a minoria na população e passam a sofrer um pesado assédio moral e até agressões físicas.

É fácil perceber que a raça criada em laboratório funciona como uma válvula de escape para os humanos poderem descontar seus impulsos agressivos. As sequências envolvendo os animoides são as mais significativas na trama, e resultam nas cenas mais violentas e memoráveis da HQ.

As visões espaciais são vertiginosas, as cenas de violência são fortes e o cotidiano da população dentro da estação é retratado de maneira sufocante e fria – o sentido da existência perdeu-se em meio ao avanço tecnológico desenfreado.

A colorização brinca com os sentidos do leitor, com diversos quadros pintados de maneira monocromática com laranja, azul ou verde – como se tudo fosse enxergado com a luz das lâmpadas artificiais do ambiente.

O roteiro é muito denso, político e há numerosas referências cinematográficas e literárias. A arte também carrega muita informação e detalhes – o minimalismo passa longe das ilustrações do autor. Os cenários e ambientes são profundamente realistas, enquanto os personagens possuem uma aparência angular e desproporcional – é possível sentir o olhar amargurado de cada um deles.

Há muitos diálogos, intercalados com momentos de muito silêncio. O final, aliás, apesar de dizer muito, é silencioso e nefasto.

A versão francesa, da Label 619, tem formato 24 x 32 cm, capa dura e miolo em papel off-set de boa gramatura e impressão. A lombada possui acabamento especial, com meia-casaca em tecido. Apesar de a edição ser caprichada, não traz nenhum material extra. Isso acaba sendo um ponto negativo, pois seria interessante ter acesso ao processo criativo do autor, devido ao estilo bastante excêntrico de suas arte.

Shangri-la é brutal, visualmente arrebatadora e expõe diversas situações ainda presentes em nossa sociedade. É uma ópera espacial inquietante e ambiciosa em que o protagonismo não está nos personagens, mas sim na existência humana.

Classificação:

4,0

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