Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Sorria

24 junho 2016

SorriaEditora: Devir – Edição especial

Autores: Raina Telgemeier (roteiro e arte) e Stephanie Yue (cores) – Originalmente em Smile (tradução de Guilherme Miranda).

Preço: R$ 39,90

Número de páginas: 224

Data de lançamento: Dezembro de 2015

Sinopse

Raina é uma típica menina norte-americana de São Francisco que está na sexta série e se diverte com as amigas entre as reuniões do escotismo. Após um desses encontros, ao voltar para casa, ela tropeça e cai, quebrando os dois dentes da frente.

Começa um longa e frustrante jornada, que implica em aparelhos dentários, cirurgias, dentes falsos e um vergonhoso "freio de burro", acompanhado por um terremoto, a descoberta dos seus primeiros amores, provas, falsas amizades e ainda dar seus primeiros passos artísticos.

Positivo/Negativo

Geralmente, as autobiografias em quadrinhos abordam uma extensa linha da vida na mão de seus autores. Este álbum da californiana Raina Telgemeier faz um recorte mais estreito cronologicamente, baseado em algo à primeira vista simples, mas que é um cartão de visitas para o primeiro contato com o mundo: o sorriso.

Um acidente besta de uma corriqueira e inofensiva corrida com as amigas após sair do carro para a porta de sua casa, e ela acaba por entrar numa fase que definirá o seu destino por muitos anos.

Pior ainda quando esse detalhe – a perda dos dentes da frente – acontece justamente quando nessa porta da trajetória de Raina está escrito "puberdade".

O constrangimento habitual de adolescente – com as espinhas na cara, as descobertas e o desengonçado corpo que não obedece uma proporção definida – é tonificado com os aparelhos, pontes dentárias e outros apetrechos corretores das visitas ao ortodontista e endodontista.

A protagonista passa a colecionar dramas hiperbólicos no seu mundo particular, como o sacrifício de uma dieta na qual se deve evitar guloseimas como a pipoca do cinema ou o sofrimento constrangedor de usar um aparelho extrabucal, o famoso "freio de burro", cujas hastes metálicas ficam aparentes.

A estrutura da futura quadrinhista – que evitava fazer algo tão espontâneo na sua idade como sorrir – é também abalada com o violento terremoto acometido no final dos anos 1980, na Califórnia. A proporção dramática diante da impiedosa Natureza diminui consideravelmente o tom catastrófico do discurso da sua epopeia bucal.

No álbum, além do hiato entre os dentes, há também espaço para amores platônicos que podem levar a outras paixões, como o fascínio pela arte depois de assistir ao longa-metragem animado A Pequena Sereia (1989). Com essas descobertas, a protagonista é colocada em confrontação com o bullying constante das amigas.

Dona de um traço cartunesco (observa-se a influência dos desenhos animados), que oferece a leveza de seus dramas, Raina Telgemeier colecionou vários prêmios com Sorria, como o Eisner Awards 2010 para Melhor Publicação para Adolescentes e A Escolha do Editor, pelo jornal New York Times, dentre outros.

A bem cuidada edição da Devir tem capa cartonada sem orelhas, formato 14 x 20,5 cm e papel off-set de boa gramatura e impressão.

Apesar de ser uma pequena janela na vida da autora, a obra não restringe sua leitura para um público juvenil. Pode ser desfrutado por adultos e por qualquer adolescente acanhado, cuja vida tem seus próprios "abalos" e "catástrofes" que traduzem a sensação de que tais "pequenos grandes" obstáculos nunca vão acabar.

Ledo engano, literalmente.

Classificação

4,0

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