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SUPER-HOMEM ESPECIAL # 1 - O MUNDO DE KRYPTON

1 dezembro 2006


Título: SUPER-HOMEM ESPECIAL # 1 - O MUNDO DE KRYPTON (Editora Abril) - Edição especial

Autores: John Byrne (roteiro) e Mike Mignola (desenhos).

Preço: Cz$ 250,00 (preço da época)

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Agosto de 1988

Sinopse: No utópico planeta Krypton, a ciência praticamente eliminou a morte com o uso da clonagem para a regeneração de partes dos corpos de seus habitantes.

Mas a população se divide em torno das implicações morais desta prática; e um assassinato obsceno se torna o estopim de uma guerra que transformará todo o planeta e ditará seu destino milênios mais tarde.

Descendente de um dos personagens dessa história, Jor-El é um homem incomum entre os kryptonianos. Seu interesse obsessivo pela história de seu mundo faz dele uma pessoa excêntrica. Mas é ele quem descobre a ameaça que vem do núcleo do planeta.

Sem tempo de salvar mais ninguém, Jor-El decide salvar pelo menos seu filho Kal-El, enviando-o para um planeta com características físicas semelhantes ao passado longínquo de Krypton, mas sem a frieza de seus habitantes.

Assim começa a história do maior herói do universo.

Positivo/Negativo: Mais do que tornar coesa a origem do Superman depois de quase 50 anos de um acúmulo desordenado de referências, John Byrne reinventou completamente o personagem. Não é exagero dizer que existem dois heróis com o nome de Superman, e esta é uma das questões mais interessantes a respeito do mercado de quadrinhos nas últimas décadas.

Se a versão anterior era reconhecida por seu caráter alienígena, divino e mítico, a de Byrne realça seu lado humano. Mas o faz sem reducionismos ou apelações de qualquer tipo. Como outros autores da época, Byrne tinha uma clara consciência de um "projeto artístico" para os quadrinhos e elaborou cada elemento com muito cuidado.

Esta "humanização" parece uma resposta à leitura do artigo de Umberto Eco, O Mito do Superman, publicado no livro Apocalípticos e Integrados, que popularizou a interpretação do herói como o desejo do cidadão comum se revelar em um ser especial, dotado de poderes praticamente opostos à sua vida vulgar.

Com os elementos da nova origem, Byrne derrubou essa dicotomia entre o humano e o herói, a começar pela origem kryptoniana do Superman. Não é sua natureza genética que faz dele um herói em potencial e a própria herança de nascença do personagem se torna uma coisa bastante complexa.

Krypton nada tem de perfeito que o faça parecer um lar de deuses, ainda que os cientistas de lá tenham esta pretensão ao tentar vencer a morte. Mas Byrne faz questão de mostrar como isso é impossível, devido às paixões do ser humano.

No futuro, Jor-El se distingue dos outros kryptonianos por seu interesse incomum por aquilo que é chamado de Humanidade. Também ousa se apaixonar pela mãe de seu filho, hábito esquecido numa sociedade que não possui mais contato pessoal.

Esta é a virtude que lhe permitirá salvar seu filho e o principal (na verdade único) ensinamento que lhe deixará como herança. Assim, a criança que vem à Terra já é humana antes de nascer, em sua origem, graças a seus pais.

Na versão de Byrne, a escolha do destino de Kal não é aleatória. Jor-El pesquisou e encontrou na Terra, e mais precisamente os Estados Unidos, o lugar ideal para seu filho viver e desenvolver sua humanidade. Já nesse ponto há também a dúvida a respeito de seu relacionamento com os terráqueos, se ele irá conviver com eles ou governá-los.

Byrne ainda arrumou espaço para homenagear um dos "pais" do Superman na figura de seu avô kryptoniano, Seyg-El, homófono de (Jerry) Siegel.

Infelizmente, a edição brasileira tira muito do valor desta grande obra, importante por sua qualidade e valor histórico. Não apenas porque a dimensão do formatinho prejudica a arte de Mike Mignola, que neste momento começava a despontar como um grande desenhista, mas também porque há muitos cortes nos originais.

Para que quatro edições norte-americanas coubessem em uma única revista brasileira, várias páginas foram cortadas e refeitas. Isso acaba com o ritmo que os autores impuseram à trama, afetando o clima da narrativa.

O que resta é praticamente uma paródia do que foi dito, uma versão crua do enredo sem elaboração alguma e que não emana a importância que a obra tem.

 

Classificação:

4,0

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