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SUPERMAN – CRÔNICAS – VOLUME 1

1 dezembro 2008


Autores: Jerry Siegel (roteiro) e Joe Shuster (desenhos).

Preço: R$ 56,00

Número de páginas: 208

Data de lançamento: Dezembro de 2007

Sinopse: Republicação, em ordem cronológica, das 15 primeiras histórias do Superman, começando da clássica Action Comics # 1, de junho de 1938.

O álbum ainda traz como brinde uma edição fac-símile de Superman # 1, a primeira revista brasileira do herói, em preto-e-branco, publicada pela Ebal em novembro de 1947.

Positivo/Negativo: Que o Superman não voava quando foi criado (ele apenas dava poderosos saltos), quase todo leitor de quadrinhos sabe. Que Krypton não tinha sido batizado ainda nas primeiras histórias, mais alguns. Agora, que em sua aventura de estréia o personagem é achado por um motorista qualquer e mandado para um orfanato; que seu planeta natal explode por ter "idade avançada"; e que o futuro Homem de Aço socava humanos comuns com toda vontade e esnobava as leis, ah, disso poucos dos fãs atuais têm conhecimento.

Pois foi assim que Jerry Siegel e Joe Shuster conceberam o Superman, um
alienígena que daria vida a um novo gênero de quadrinhos e se tornaria
um ícone da cultura pop mundial. Mas que mudou muito desde seus primeiros
dias, como pode ser comprovado neste álbum, um item indispensável para
fãs de super-heróis que foi uma das razões para o Universo HQ adiar
para o começo de 2008 a matéria dos melhores
do ano passado
.

Se analisadas de acordo com os padrões atuais, as 15 histórias desta edição parecem "bobinhas". Mas, definitivamente, não é assim que elas devem ser vistas. Apesar de ser um exercício difícil, vale tentar lê-las como alguém que, até então, jamais havia visto seres superpoderosos nas HQs. Afinal, foi isso que aconteceu em 1938 e só assim pode-se ter alguma idéia do quão impactantes foram aquelas aventuras para os jovens da época. E para seus criadores e editores também.

Feita sob esse olhar, a leitura é uma diversão e tanto. O álbum traz momentos históricos, como o primeiro beijo de Lois Lane no Superman (em Action Comics # 5), o herói provando ser, literalmente, mais rápido que uma bala (Action Comics # 8) e as menções iniciais à visão de raios-x e a uma "audição superapurada" (Action Comics # 11). Outro fato que merece destaque: na época ainda não eram usados os balões de pensamento. Por isso, para mostrar quando os personagens estavam pensando, os textos eram colocados entre parênteses.

Também chamam a atenção o surgimento do Clark Kent covarde e Lois Lane trabalhando como jornalista de "matérias sentimentais". Aliás, o sentimento que ela nutria pelo alter ego de seu amado Superman era um misto de desprezo e ódio. Tanto que demonstrava pouca ética para tapear seu colega de redação do Estrela Diária (o nome Planeta Diário só surgiria nas tiras de jornal do Superman), cujo editor-chefe ainda nem é chamado pelo nome - isso só ocorreria em Superman # 2 e ele seria batizado George Taylor.

Como até então não tinha supervilões, o herói empregava seus poderes para dar lições em jovens delinqüentes, num treinador de futebol americano, num marido valentão, em taxistas inescrupulosos e no dono de uma mina; ajudava um circo à beira da falência; combatia um charlatão que se dizia agente do Homem de Aço; acabava com uma guerra entre dois países da América do Sul e por aí afora. E ainda arranjava tempo para "cavar" pautas pendurado em prédios, no melhor estilo Homem-Aranha!

Mas o destaque mesmo fica por conta da índole do Superman. Ele agia como bem entendia, fazendo sua própria justiça. Destruía propriedades alheias, deixava um preso ser chicoteado para tirar fotos para sua matéria no Estrela Diária, invadia a residência do prefeito (a cidade ainda não se chamava Metrópolis), arrebentava uma fábrica de automóveis "que usava metais e peças de má qualidade" porque estava furibundo com o excesso de mortes no trânsito etc.

Uma das melhores passagens é quando o herói, disfarçado como Homer Ramset, compra ações de um poço de petróleo inativo, usa seus poderes para fazer jorrar litros e litros, vende os papéis para os ex-donos (dois pilantras) por um milhão de dólares e destrói completamente o poço.

Além disso, o herói nem de longe se importava com a vida dos inimigos, uma característica que adquiriu tempos depois e nunca mais abandonou. Numa das HQs, quando um bandido cai de seus braços e morre ao bater na calçada, o Superman diz que ele teve o destino que merecia. Não é à toa que ele era perseguido pela polícia.

Aliás, aqui vale um parêntese: quando Batman - que teve seu Crônicas
lançado antes no Brasil - foi "encomendado" pela National Comics
(a futura DC) para Bob Kane, ele tinha, sim, semelhanças com o
Superman: órfão, agia de acordo com suas convicções, não tinha dó de bandidos
e tinha a polícia em seu encalço. Portanto, esqueça aquele papo de que
um representa as trevas; e outro, a luz. Nem sempre foi assim.

É curioso notar também o pouco cuidado editorial da época, pois quadrinhos eram muito baratos e voltados para um público pouquíssimo exigente. Isso pode ser visto pelo símbolo no peito do Superman, que muda de cor e de formato e até some às vezes; pelas botas do herói, que começam azuis, passam a ser vermelhas, ficam amarelas numa história e retornam ao vermelho; e pelos problemas do desenho de Shuster, especialmente na proporção dos personagens - na aventura em que o herói carrega quatro jovens sob os braços, eles mudam de tamanho de um quadro para outro. Como bem ressalta o texto da quarta-capa do álbum, o Homem de Aço ainda era um diamante bruto prestes a ser lapidado.

Outro retrato de época, felizmente mantido pela Panini, são os anúncios no final das histórias, que ensinavam aos pequenos leitores (vale lembrar: a revista era para crianças) como adquirir "superpoderes", os conclamavam a serem sócios oficiais dos Super-Homens da América e até ofereciam prêmios de 25 dólares em notas de um.

A última história do álbum é o número de estréia da revista Superman, no qual é introduzido nos quadrinhos o nome do planeta Krypton, são revelados detalhes que preenchem lacunas da primeira aventura do herói em Action Comics (há um assassinato de um homem chamado Jack Kennedy!), e é feita uma pequena mudança na origem contada cerca de um ano antes: quem acha o bebê é o casal Kent (a mulher se chama Mary, e não Martha), que o entrega para o orfanato e logo depois o adota. Só que eles morrem quando Clark já era adulto. Tudo isso é mostrado em apenas seis páginas inéditas (e não quatro, como saiu na página 203).

A Panini merece parabéns não apenas por ter dedicado a este volume todo o cuidado que ele merecia (a idéia de dar como brinde uma edição fac-símile de Superman # 1, da Ebal, é de tirar o chapéu), mas também por ter aberto - e estar ampliando - o nicho de álbuns de super-heróis voltados para livrarias. Um belo projeto editorial.

A edição traz as capas originais (em Action Comics, o Superman só estrela as de número # 1, # 7, # 10 e # 13; e na do especial New York World's Fair Comics, ele está loiro!), biografias dos autores, uma história do herói em prosa e uma "explicação científica" para os poderes do kryptoniano - se alguém pensou em sol amarelo, errou feio; não tinha nada a ver com isso.

O álbum apresenta apenas um problema gráfico na página 84, no anúncio no final da história: o título (Adquirindo superforça) e o subtítulo (Treinando os músculos) saíram com as letras "empasteladas" em preto - a impressão é que a sombra que deveria estar sob as letras ficou em primeiro plano.

Mas isso não tira o mérito da Panini que, às vésperas de o Superman completar 70 anos, coloca à disposição dos leitores brasileiros um álbum digno da grandiosidade do primeiro dos super-heróis.

Classificação:

4,0

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