A cronologia dos X-Men é muito longa, intrincada e confusa. Personagens morrem e renascem com frequência. A equipe passa por constantes reformulações. Por isso, é difícil estar por dentro de tudo que acontece com os mutantes. Difícil e desnecessário.

E é aí que Surpreendentes X-Men se diferencia: qualquer um pode se divertir com a série. Esta é a proposta de Joss Whedon e John Cassaday.

Mas, com certeza, existe um público específico que vai saborear ainda mais as histórias feitas pela dupla: os fãs da fase de X-Men escrita por Chris Claremont e John Byrne e publicada no Brasil na década de 1980, na revista Superaventuras Marvel, da Abril.

As referências ao trabalho de Claremont e Byrne são diversas. Vão desde citações literais aos confrontos com o Clube do Inferno até um painel em que Kitty Pride está exatamente na mesma posição, situação e proferindo as mesmas palavras que Wolverine em uma história de 30 anos atrás.

Aliás, o tempo nos quadrinhos funciona de maneira estranha. No mundo real, três décadas separam as aventuras de Claremont e de Whedon. No ficcional de Kitty Pride e seus amigos, passaram-se uns dez anos, no máximo.

Há também muitas referências ao trabalho realizado por Grant Morrison em Novos X-Men, mas enquanto os mutantes do escritor escocês usavam couro preto e tentavam se levar mais a sério, os de Whedon fazem as pazes com o colante e caem de cabeça nas mais despretensiosas e divertidas aventuras de super-heróis.

Joss Whedon faz o leitor se empolgar. Ele consegue fazer com que o comportado Ciclope surpreenda, sem jamais distorcer as características da sua personalidade. (E, de fato, o contra-ataque do personagem ao ser privado de seus poderes é realmente surpreendente.)

O autor respeita os personagens, dá espaço para eles se desenvolverem, explora a interação de uns com os outros. Os quadros horizontais de Cassaday predominam e parecem dar um suporte widescreen aos diálogos e ação idealizados por Whedon.

A edição da Panini abre com um breve texto que relembra o leitor dos eventos ocorridos no volume anterior. É mais do que suficiente, mas seria muito bem-vindo um editorial tecendo paralelos, apresentando as semelhanças e referências entre os trabalhos de Whedon, Claremont e Morrison.

No todo, o maior "problema" da edição é terminar em aberto, deixando o leitor ansioso pela conclusão da história. Espera-se que a Panini não demore mais dois anos e meio para lançar a próxima edição (o primeiro volume foi publicado em agosto de 2008 e o segundo, em fevereiro de 2011).

Surpreendentes X-Men - Derrotados é diversão garantida e despretensiosa, como o melhor do gênero dos super-heróis costumava oferecer. E por um preço bem digno.