Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
OUÇA
Reviews

TANGOS & TRAGÉDIAS EM QUADRINHOS

1 dezembro 2008


Autores: Cláudio Levitan (texto) e Edgar Vasques (arte).

Preço: R$ 22,00

Número de páginas: 48

Data de lançamento: Outubro de 2007

Sinopse: O violinista Kraunus Sang e o Maestro Pletskaya andam causando certo alvoroço na indústria da música. Afinal, os dois são originários da Sbórnia, a grande lixeira cultural do mundo, justamente para onde vai tudo o que passa pelo triturador do sistema de produção das artes. O risco de vazamento e contaminação é grande.

Para impedir a dupla, o empresário W & W chama seus capangas, Roni Mono e Toni Stereo, e pede para que capturem Kraunus e Pletskaya.

Positivo/Negativo: Tangos & Tragédias em quadrinhos é "em quadrinhos" porque há um outro Tangos & Tragédias, que deu origem a tudo isso.

Trata-se de um musical que estreou em 1984 no bar do Instituto dos Arquitetos do Brasil, em Porto Alegre, mas que, de lá para cá, cresceu muito. Desde 1987, é ele quem ocupa (quase sempre com lotação esgotada) os meses de janeiro do Theatro São Pedro, o palco mais cobiçado da capital gaúcha.

No cenário cultural porto-alegrense, o show de Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky tornou-se um marco. Além disso, nos outros meses, a dupla faz excursões pelo Brasil e, eventualmente, pelo exterior.

O universo ficcional sborniano é simples, mas rico em elementos. Por isso, já foi assimilado pelos espectadores, que conhecem o violinista Kraunus Sang e o Maestro Pletskaya, cantam de cor e em coro Ana Cristina (composição de Cláudio Levitan, roteirista do álbum), dançam o Copérnico ("Você não pode mexer com as pernas, você não pode mexer com as mãos", diz a letra-instrução) e sabem: a Sbórnia é um país que era grudado no continente por um istmo, mas foi separado por sucessivas explosões nucleares e hoje é uma ilha que vaga pelos mares do mundo.

Por isso, embora o livro possa ser lido e compreendido por qualquer pessoa, e que mesmo dessa leitura leiga se tire bons momentos de diversão, ter assistido ao musical é um pré-requisito desejável. Afinal, a HQ não é uma mera adaptação, e sim uma trama complementar, que amplia as dimensões do já rico universo sborniano (para conhecer melhor, os novatos podem visitar o site do espetáculo).

O álbum chega a mostrar, em oito páginas, uma parte da apresentação de Kraunus e Pletskaya. Mas o foco não é retratar o show.

Levitan e Vasques preferem mostrar como a indústria da música reage à chegada dos sbornianos, armando uma perseguição insana protagonizada por dois idiotas, Roni e Toni.

Afinal, com toda a cantoria, Tangos & Tragédias cutuca o tempo todo a indústria do entretenimento. O fato de que a Sbórnia é uma lixeira para onde vai o que a cultura global tira de moda não é gratuito: em sua bagagem cultural, a dupla de músicos carrega preciosidades quase esquecidas, como a espetacular O ébrio, de Vicente Celestino. A mala de canções deliciosas é um risco para o mesquinho empresário musical W & W. Vai que o público descobre que há coisas melhores para se ouvir do que suas crias, medonhices como os Nemudos, o Ah Ah Ah e os Yuhós!

Lançado originalmente em 1990 pela editora Sulina, o álbum foi concebido em um mundo sem internet e MP3, em que as gravadoras tinham um poder babilônico nas mãos. Se a indústria sofreu um grande baque desde lá, alguns maus hábitos não mudaram. E é curioso perceber que, agora que a L± lança a segunda edição, Tangos & Tragédias em quadrinhos continua atualíssimo: diz que, apesar de tudo, o ex-Nemudo Rico Martinho é quem faz a cabeça das FMs.

Passado quase um quarto de século, Kraunus e Pletskaya continuam sua tour de force em prol da recuperação do rico material que estava na lixeira da Sbórnia. E seu próprio álbum de quadrinhos, que volta às prateleiras após quase duas décadas de ausência, é um grande exemplo de trabalho a ser recuperado.

A arte de Edgar Vasques (Rango, O Analista de Bagé, Sottovoce - A morte fala baixo) é, como sempre, matadora. O trabalho é grandiosamente expressivo em seu chiaroscuro de nanquim, marca do autor. E, principalmente, mostra mais um pouco de um criador que, injustamente, é pouco comentado na lista dos grandes quadrinhistas brasileiros.

Se a obra tem um problema, é seu final em aberto. Passados 18 anos desde a primeira publicação, a história segue prometendo a continuação. Se viesse, seria uma boa, especialmente para comemorar os 25 anos do espetáculo, que se completam em 2009. Até porque a união de Vasques, Levitan, Kraunus e Pletskaya, como este álbum comprova, é sempre uma boa.

Classificação:

4,0

Leia também
Já são mais de 570 leitores e ouvintes que apoiam o Universo HQ! Entre neste time!
APOIAR AGORA