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THE BIG LIE # 1

Por Delfin
1 dezembro 2011

THE BIG LIE # 1

Editora: Image - Revista mensal

Autor: Rick Veitch (roteiro e arte).

Preço: US$ 3,99

Número de páginas: 32

Data de lançamento: Setembro de 2011

 

Sinopse

Sandra Stratton, uma cientista do CERN, consegue retornar dez anos no tempo e no espaço, com a missão de salvar seu marido no dia do pior ataque terrorista da história dos Estados Unidos.

Positivo/Negativo

Muito já se falou sobre o 11 de setembro de 2001. Sobre os motivos e sobre as consequências. Esta resenha não vai se ater a isso, mesmo porque a maciça cobertura da imprensa já faz isso muito bem.

Um livro recomendado para se inteirar no assunto é Compreender o 11 de Setembro, do historiador Vasco Rato (Babel). E há a Wikipédia, a Brittanica e muitos outros pontos da internet para se informar sobre a versão oficial.

Esta resenha não é sobre a versão oficial da história. Mas é, ao mesmo tempo, sobre fatos dos quais você talvez nunca tenha ouvido falar.

Fato: havia uma câmera de vigilância num posto de combustíveis que estava apontada, por coincidência, justamente para a face do Pentágono atingida durante os ataques daquele dia. Soube-se da existência dessas imagens na tarde de 11 de setembro.

Não demorou muito para que essas imagens, que seriam as únicas a registrar o avião que se chocou com o complexo de comando militar norte-americano. Mas, estranhamente, frames daquelas imagens pareciam ter sumido, pois, entre a calmaria e o caos após a explosão, não havia nada.

Fato: ainda no Pentágono, durante a remoção dos escombros, pessoas mais atentas perceberam que o gramado que cerca a construção não estava sequer chamuscado.

Fato: várias notícias que iam sendo publicadas nos sites da CNN e da BBC durante o dia foram sendo, sistematicamente, tiradas do ar. Como antigamente o cache do Google demorava horas para se atualizar, algumas permaneceram acessíveis ainda por algum tempo, para depois sumirem da rede.

Com o tempo, os dados contidos nessas matérias foram reaparecendo. Dentre eles, o enorme depósito particular de ouro contido abaixo do complexo de prédios WTC e a especulação sobre a dívida milionária dos edifícios - arrendados, meses antes, para um grupo particular até o ano de 2040.

Fato: BBC e CNN noticiaram a queda das torres antes disso efetivamente acontecer.

Ninguém contou a este resenhista sobre esses fatos: trabalhar, à época, num bom veículo jornalístico, com acesso a agências internacionais como Reuters e AP, por exemplo, fez com que essas informações estivessem disponíveis. Mas nada que resistisse com consistência e chegasse ao público na edição impressa do jornal, no dia seguinte.

Foi assim que a história daquele dia começou a ser escrita: com a seleção dos fatos e, principalmente, a atenção total à versão oficial de toda a tragédia.

Mas nem todos engoliram as explicações oficiais. E uma rede extraoficial de informação começou a ser criada naquele dia, sem organização centralizada, por pessoas dispostas a expor verdades que estavam sendo ocultadas por dados que as contradiziam, por mentiras selecionadas que contariam a história oficial.

Existe pelo menos um paralelo ficcional a este evento de mídia. Na minissérie televisiva norte-americana V, exibida pelo SBT nos anos 1980, alienígenas chegam à Terra com uma suposta missão de paz. Contudo, alguns cientistas, biólogos e jornalistas encontram, na história apresentada, pequenas contradições que pareciam apontar para uma outra verdade, diferente da oficial, um conjunto de fatos que tornaria a versão oficial uma grande mentira.

Na série, estas pessoas foram perseguidas e desacreditadas, quando não tinham um destino ainda pior. Mas isso só fortaleceu o desejo de que determinados fatos fossem levados a público de qualquer modo, ainda que isso custasse a vida desses porta-vozes.

O método da descrença, na vida real, também é muito utilizado contra as pessoas que desejam trazer à tona fatos que, apesar de públicos, são desconhecidos da maioria das pessoas. Foi agindo assim que a revista americana Wired, por meio de um de seus blogs, reagiu à HQ tema desta resenha: a primeira edição de The Big Lie, do polêmico autor Rick Veitch, que trata justamente dos fatos que levaram ao colapso das torres gêmeas em Nova York.

Veitch, conhecido por sua excelente fase em Monstro do Pântano (DC) e Brat Pack (publicado no Brasil pela HQM), é uma das poucas vozes a se levantarem para contar, sem condescendência, sua versão sobre o 11 de Setembro.

Não foi a primeira vez: antes disso, há cinco anos, ele lançou, pelo selo Vertigo, a graphic novel Can't Get No, que relata os dias anteriores e posteriores ao atentado na "Grande Maçã" pelos olhos de um grupo incomum de personagens comuns. Ousada, a trama mostra com precisão o quanto os norte-americanos foram afetados emocionalmente pelo terrorismo ocorrido naquele dia - sem qualquer diálogo entre os personagens, diga-se, o que acentua a opressão na leitura.

Já no número inicial de The Big Lie - série que, segundo informa o site do selo Truth Be Told, irá relatar grandes verdades sobre as maiores mentiras dos Estados Unidos -, Veitch pega a quantidade enorme de informações sobre o 11 de Setembro (recolhidas em fontes confiáveis, como Newsweek, CNN, BBC, o relatório 9/11, do Congresso norte-americano, dados oficiais do governo dos EUA e de seus militares, informações documentadas de grupos políticos neoconservadores ligados principalmente ao vice-presidente da época, Dick Cheney, entre outras) e as converte numa história de ficção que não pretende, no entanto, se mostrar fictícia.

A capa dramática, de Thomas Yeates, anuncia o que se vê lá dentro: as torres gêmeas pegando fogo e, por trás delas, um Tio Sam ferido em combate, empunhando a bandeira de sua nação. De fato, é o bom e velho Sam que irá narrar esta história. Mas a mensagem do velho patriota certamente não é a mesma daqueles que falam em seu nome. O espírito da nação, como muitos o conhecem, tem algo diferente para contar.

Utilizando um grupo de personagens instigante (uma cientista do CERN que retorna dez anos no tempo, seu marido uma década mais jovem e o cético grupo de trabalho do qual ele faz parte), o escritor vai colocando, em cada página, argumento em cima de argumento, desconfiança em cima de desconfiança, uma resposta após cada pergunta feita. Tudo para que a dra. Sandra consiga convencer seu esposo, Carl, a sair da torre em que seu escritório funciona.

Ao se utilizar de fatos, e não de pressuposições, ao usar seus personagens para fazer as perguntas certas, Veitch deixa claros fatos que nunca foram explicados a contento sobre os bastidores dos eventos que conduziram à queda do complexo do World Trade Center (pois não foram apenas as duas torres principais que caíram, incluindo aí o misterioso ruir total do prédio número sete do conjunto de edifícios, que nem sequer foi atingido no ataque e, no entanto, colapsou como numa implosão controlada).

De fato, após ler a história, é difícil não crer que haja mesmo algo de muito podre cercando essa tragédia mundial, que matou milhares de inocentes e que, de fato, foi boa apenas para os setores da economia norte-americana ligados à indústria bélica. Utilizando, é bom que se diga, uma narrativa de grande qualidade.

O leitor pode, e muitos vão, discordar de Rick Veitch. Pode achar que é apenas mais uma história de conspiração, como aquelas que falam sobre aliens reptilianos invadindo o nosso planeta aos poucos, até estarmos completamente sem defesa. E pode acreditar que o autor é apenas mais uma voz insana, um Fox Mulder da narrativa gráfica, apontando para coisas absurdas quando o senso comum pode, com algum esforço, explicar tudo de modo muito mais convincente.

Mas são pessoas como Veitch que mostram as pontas soltas, aquilo que não se encaixa, dando outras peças do quebra-cabeças, aquelas que o leitor nem sequer sabia que existiam, mas que agora estão lá, se encaixando em lugares surpreendentes, revelando uma camada da história que muitos podem querer que você não saiba.

Novas peças estarão por lá na próxima edição. E novos setores do cenário a ser montado ganharão outros contornos.

Pois, como o velho Tio Sam diz logo de cara, mentiras são como meias: existem em todos os tamanhos. E todas elas cheiram muito mal.

Classificação:

4,0

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