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THE MILKMAN MURDERS

1 dezembro 2012

THE MILKMAN MURDERS

Editora: Dark Horse - Edição especial

Autores: Joe Casey (roteiro) e Steve Parkhouse (arte) - Originalmente publicado em The Milkman Murders # 1 a # 4.

Preço: US$ 12,95

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Abril de 2005

 

Sinopse

Após ser violentada por um leiteiro, uma típica dona de casa norte-americana se revolta ao constatar que sua família nunca seria igual à imagem idealizada por ela.

Ouvindo os conselhos da "mãe perfeita" de um antigo seriado de TV, Barbara começa a disciplinar não apenas a sua família, como também a sociedade.

Positivo/Negativo

Na introdução à edição encadernada de The Milkman Murders, o editor Scott Allie comenta seu gosto particular por histórias nas quais o horror surge como um elemento da narrativa, ligado às emoções dos personagens, e não como gênero propriamente dito.

É esse "sentimento de horror" que permeia o pesadelo pelo qual passa a família Vale, em especial a matriarca Barbara.

Vivendo de forma idealizada, inspirada na série de TV dos anos 1950 Leave it to Mother e sua heroína Carol White, a "mãe perfeita", Barbara faz de tudo para ser uma dona de casa exemplar e ter uma família modelo.

Ela está sempre procurando agradar o marido mal-humorado e zelando pelo bem-estar dos filhos adolescentes, embora seja tratada com escárnio, como se fosse um estorvo.

Após dias de humilhação engolidos a seco, descobre que sua família é doente: filha depravada, filho freak e marido que só tem prazer ao se drogar. No entanto, não consegue encarar os fatos porque para resolvê-los terá que reinventar seu mundo cor-de-rosa.

Ao ser violentada dentro de casa por um leiteiro, que entra e sai de cena sem nenhuma explicação aparente (tal qual a violência metaforizada no personagem Anton Chigurh, do filme Onde os fracos não tem vez, dirigido pelos irmãos Coen), Barbara não tem mais motivos para continuar usando a máscara da ilusão e enlouquece ao extravasar toda a dor reprimida.

Tendo como guia a "mãe perfeita", que a instrui a disciplinar a sociedade, ela se arma com uma peixeira e vai botar ordem na casa e no mundo, vestindo sua nova persona como serial killer.

Em The Milkman Murders, Joe Casey desconstrói a figura paternal do leiteiro, criada por Normal Rockwell para o jornal The Saturday Evening Post, em 1935, tomando-o como um abjeto psicopata que faz o castelo suburbano de Barbara desmoronar de vez.

É o leiteiro quem "planta" em Barbara a semente da realidade, transformando sua passividade e subserviência em revolta contra a hipocrisia social.

Em meio a litros de sangue e leite derramado e expelido (metáforas para morte versus vida), Casey é ora sutil, ora direto, e ganha pontos por fugir do clichê, não admitindo redenção para os personagens torpes.

Similar aos filmes do cineasta John Waters, a família Vale é retratada de forma caricata pelo desenhista Steve Parkhouse, um recurso para amenizar a violência da trama e, ao mesmo tempo, ironizar os seus integrantes - no posfácio, ele conta ter utilizado seu pai e algumas tias como referência.

Esta HQ chocou os norte-americanos devido ao banho de sangue e os excessos cometidos por Barbara, os quais causaram preocupação em Allie, que alertou Casey sobre uma mudança de diretrizes para a conclusão da história.

Mas Casey não deu o braço a torcer e comprovou ser necessário mesclar horror psicológico e físico para espantar os demônios da personagem e fazê-la viver de maneira livre. Mesmo sendo absurda, a redenção era mais real do que sua vida inventada.

Em entrevista ao site Comic Book Resources, Casey informou que The Milkman Murders ganhará uma edição de luxo (em formato americano, com capa dura e alguns extras) até o final de 2012, pela Image.

Para quem gosta de famílias disfuncionais e não consegue encontrar as edições avulsas ou o encadernado, vale a pena esperar por essa nova versão.

 

Classificação:

4,0

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