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TINA # 6

22 setembro 2009


Autores: Estúdios Mauricio de Sousa (texto e arte).

Preço: R$ 3,90

Número de páginas: 48

Data de lançamento: Outubro de 2009

Sinopse: O triângulo da confusão - Tina sai com um amigo desconhecido, Caio, deixando Miguel, o namorado dela, enlouquecido e Pipa, transtornada.

Namoro virtual - Rolo vai a um encontro com uma paquera da internet.

O que uma mulher não faz para entrar num vestidinho tudo-de-bom? - Pipa faz de tudo para emagrecer e entrar num vestidinho rosa.

Solidão a dois - Rolo vai acampar, e seu pai vai atrás.

Positivo/Negativo: A revista é da Tina. Mas o astro dessa edição é Caio - aquele que supostamente é o primeiro personagem homossexual de Mauricio de Sousa. E que, por conta de sua suposta opção sexual, chamou a atenção da imprensa e dos leitores - que se manifestaram, a favor e contra, na internet.

Destaque para a palavra "supostamente".

A HQ é extremamente vaga ao assumir a homossexualidade de Caio.

Primeiro, mostra Tina dando a mão, conversando juntinho, como se não houvesse tensão sexual entre eles. "O Caio, pra mim, é como um irmão", a moça explica mais tarde.

Em seguida, Caio diz ser comprometido e sai de cena ao lado de um amigo de Zecão - mas sem pegar na mão. Haja gaydar pra detectar a preferência do moço.

Mais velado, impossível. Sem a influência da fuzarca midiática, a insinuação poderia passar batida. Caio poderia ser realmente um grande amigo de Tina. E só.

Aliás: até agora, nenhuma fonte ligada a Mauricio oficializa que Caio seja gay. Uma nota divulgada esta semana não admite a homossexualidade do personagem.

Ok, também não nega.

A rigor, não sai do armário.

Fica, como naquela marchinha de carnaval, no "Será que ele é?" - questão que a própria história se esmera em não abordar.

No Twitter, Mauricio já vinha se defendendo, dizendo que a Tina não é Turma da Mônica, que não é revista para crianças. Talvez porque, na visão do criador, crianças não lidem com a própria sexualidade ou que suas histórias não devam tratar disso.

(O que, cá pra nós, é meio sem sentido: o beijo de Mônica e Cebolinha na Turma da Mônica Jovem causou frisson porque concretizava uma ideia implantada na cabeça dos leitores ainda na infância, quando liam as revistinhas e pensavam que havia algo por trás daquela fixação insana em dar nós num coelho.)

Mas Mauricio tem um lado conservador forte, como já deixou claro em entrevista concedida à revista Veja, em fevereiro - na qual falou sobre a possibilidade de criar personagens homossexuais:

"Tem gente pedindo para eu criar um personagem gay. Esse tema ainda é muito novo. Mas eu sei que, no futuro, se essa tendência continuar, será natural ter um homossexual na Turma. No meu estúdio, digo que não devemos levantar uma bandeira e ir à frente de uma passeata. Devemos segurar a bandeira quando ela já está passando. Precisamos falar a língua do dia e da hora, mas tomando certos cuidados. Foi com essa fórmula que construí minha carreira."

O resultado é que, se Caio é mesmo gay, o receio de Mauricio e de sua equipe criou uma história sutil demais. Com os elementos que a própria HQ fornece (e é isso que importa para uma crítica, no fim das contas), não dá pra afirmar nada.

Só dá pra tomar a homossexualidade de Caio como fato se o leitor negar qualquer possibilidade de existir amizade entre um homem e uma mulher.

Se a intenção era trazer o tema da homossexualidade à tona, a HQ fracassou, simplesmente porque não diz nada, não mostra nada, não abre debate algum. Apenas esconde, disfarça... A discussão que surgiu veio de um olhar externo - que pode estar equivocado.

No que diz respeito à criação da equipe de Mauricio, por enquanto, Caio fez muito barulho por nada.

A própria revista traz, em outras histórias, temas bem mais polêmicos, mas que não ganharam a mesma atenção.

Namoro virtual, que vem a seguir, fala da dificuldade de os jovens se envolverem em um relacionamento real.

O que uma mulher não faz para entrar num vestidinho tudo-de-bom? mostra a obsessão de Pipa em emagrecer para caber num vestidinho rosa - numa história, aliás, criada antes da demência geral que um grupo de alunos da Uniban demonstrou há uns dias por conta de uma peça de tão roupa curta e decotada quanto a que é desejada pela personagem.

Até na entrevista há espaço para abrir debate: afinal, a ginasta Daiane dos Santos acaba de ser flagrada no exame antidoping. (Mas a matéria foi produzida antes do anúncio, porque não há menção alguma.)

Fica para o final a melhor e mais elaborada HQ da revista, Solidão a dois, que mostra o relacionamento de Rolo com seu pai. O tema não é polêmico nem atual: fala da reaproximação de pais e filhos durante a adolescência.

Diante de tanto hype em cima de Caio, a história acaba ofuscada. O que é injusto: Solidão a dois é o que de melhor Tina tem a oferecer.

 

Classificação:

4,0

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