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ULTRALAFA

Por Delfin
1 dezembro 2011

ULTRALAFA

Editora: Leya / Barba Negra) - Edição especial

Autor: Daniel Lafayette (texto e arte).

Preço: R$ 34,90

Número de páginas: 176

Data de lançamento: Abril de 2011

 

Sinopse

Primeira coletânea de tiras de Daniel Lafayette.

Positivo/Negativo

Na contracapa deste álbum, o leitor menos avisado encontra citações de Adão Iturrusgarai, o criador de Aline, e Laerte, que dispensa apresentações aos amantes da nona arte. Isso deve bastar para que a barreira do desconhecido seja vencida e que as páginas deste livro sejam abertas.

A partir daí, este mesmo leitor deverá passar a fazer parte da pequena, porém crescente, legião de fãs de Lafa, como é mais conhecido o cartunista carioca Daniel Lafayette.

Mas para isso talvez sejam necessários dois pré-requisitos.

O primeiro é a predisposição em imergir no imenso caldo da cultura pop em que o autor está envolvido. Para ele, o mundo atual é tão referencial como aquele em que cresceu e conviveu. Desde as referências trash mais populares até citações sempre clássicas do ideário humorístico.

O segundo é estar despido de preceitos sobre como deva ser uma tira de humor. Pode parecer estranho, por ser demasiado óbvio, mas o humor não tem regras. E também não pode ter limites.

A discussão sobre este tema está nos trending topics do Twitter semanalmente, a cada piada online mais ousada de nomes como Danilo Gentili, Rafinha Bastos ou de qualquer outro nome do humor nacional com mais repercussão.

Pois Lafa se alimenta dessa falta de limites e desconstrói as paredes que foram erguidas para conter o humor. E, aí, se destaca como poucos atualmente. Porque a qualidade do humor que faz tem condições plenas de conquistar qualquer leitor, sem receios.

Lafayette é influenciado por desenhos animados, seriados antigos, quadrinhos e piadas prontas. Também por Keith Haring, canais de documentários, ficção científica e filmes de terror. Há muitas referências mais. Talvez nem o próprio autor saiba citar todas. E quem conseguiria, nos dias atuais?

Mas o desenho de Lafa é inconfundível. Mesmo aos olhos do tempo: dos contornos finos do início da carreira aos traços grossos, como os de desenhos do Cartoon Network da atualidade, é fácil reconhecer seu estilo.

Por isso, é um acerto dos editores não colocar muita ordem na organização do álbum, nem cronológica e nem temática - apesar de agrupar as pequenas séries de tiras que o cartunista frequentemente produz.

As cores usadas por Lafa são duras, fortes e sem meios-tons. Quase sempre são contrastantes. Um colorista tradicional poderia tranquilamente dizer que ele não sabe pintar. Mas é justamente a paleta de matizes utilizada que ajuda não apenas a diferenciar o seu trabalho (que foi, em boa parte, publicado na internet, onde as cores fortes fazem todo o sentido), mas também a contar suas pequenas histórias subversivas, que surpreendem o leitor quase inevitavelmente.

É necessário destacar que o absurdo está quase sempre presente na narrativa do autor. E, muitas vezes, isso faz o leitor pensar se é mesmo uma bobagem ou se esta ou aquela tira tem lá seu fundo de verdade. Muitas vezes tem.

Fora o fato de que, quando Lafa se utiliza como personagem, não se perdoa também. Um artista que sabe que pode ser alvo de si mesmo merece um crédito especial.

A edição tem produção gráfica do estúdio Retina_78, que fez todos os trabalhos da Leya / Barba Negra até aqui. Novamente, a estética visual acompanha as viagens propostas por Lafayette, casando muito bem com o conteúdo da obra.

Mas nem tudo são flores. Apesar de ser um tirista com um bom vernáculo e excelente narrativa, Lafa comete deslizes de português. São pequenos, mas vira e mexe é possível topar com um deles.

Na internet, quando uma tira é colocada muitas vezes no calor do momento, isso é perdoável. Mas não na edição de um álbum que deve ser um cartão de visita do artista para um mercado leitor que ainda não o conhece tão bem.

Hoje, o uso de programas de manipulação visual para consertar acentos, grafias e pontuações de balões de fala é um recurso banal, a ponto de preservar integralmente a caligrafia peculiar e também notável de Lafayette. Uma segunda edição pode resolver isto facilmente.

Apesar de não ser a estreia impressa de Daniel Lafayette (ela aconteceu, em livro, na premiada publicação independente Beleléu, em 2009), este álbum dá a ale os holofotes e a chance de provar o que muitos já comentam à boca pequena: Lafa tem tudo para ser um dos maiores expoentes do humor gráfico brasileiro em pouquíssimo tempo.

Classificação:

4,0

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