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Um brasileiro chamado Zé Carioca

1 abril 2016

Um brasileiro chamado Zé CariocaEditora: Abril – Edição especial

Autores: Ivan Saidenberg (roteiro) e Renato Canini (desenhos).

Preço: R$ 49,90

Número de páginas: 352

Data de lançamento: Novembro de 2015

Sinopse

De seu barraco na Vila Xurupita, Zé Carioca vive aventuras em que tenta ganhar uma grana, foge de cobradores, investiga mistérios à frente da Agência de Detetives Moleza e assume a identidade de Morcego Verde.

Positivo/Negativo

Foi preciso que um paulista e um gaúcho assumissem os quadrinhos do Zé Carioca para que ele se tornasse, efetivamente, muito carioca.

O personagem foi criado por animadores da Disney que visitavam a América do Sul para criar o que viria ser o longa-metragem Alô, Amigos (1942). Nos Estados Unidos, o papagaio também estreou nos quadrinhos – na verdade, a tira foi lançada até antes que o filme.

Em 1950, ele estreou nas HQs brasileiras já na capa de O Pato Donald # 1, da Abril. Com o tempo, ganhou gibi próprio, teve suas histórias norte-americanas republicadas aqui e alguma produção própria.

Mas era pouco: quadrinhos do Mickey chegaram a ser publicados aqui com o personagem mudado para o Zé Carioca. Foram possivelmente seus momentos menos brasileiros.

Quando o paulista Ivan Saidenberg e o gaúcho Renato Canini começaram a produzir histórias do personagem, tudo mudou. O roteirista pegou o malandro que já existia e o instalou em um barraco no morro da fictícia Vila Xurupita, aumentou sua ligação com o futebol e o carnaval, e ainda criou parentes representando outras regiões do país: Zé Paulista, Zé Queijinho, Zé Jandaia e Zé Pampeiro, que têm sempre uma boa química com o primo carioca.

As histórias desta edição em capa dura (são 44, de 1971 a 1978) mostram Zé tentando descolar alguns trocados (de preferência, sem pegar no pesado) ou fugindo de cobradores, mas também dão destaque a vertentes que foram sendo desenvolvidas com o passar dos anos.

Uma delas é a Agência de Detetives Moleza que, surpreendentemente, tinha clientes que a levavam a sério. Aliás, a bordo ou não da “organização”, nesta edição as histórias de mistério se mostram uma predileção da dupla de autores.

A outra é o alter ego heroico do Zé, o Morcego Verde. O papagaio acredita ser um super-herói após ser soterrado por sua coleção de gibis do Morcego Vermelho (que tem o Peninha como identidade secreta e também foi criado por Saidenberg), em um lance metalinguístico da história.

Com um uniforme improvisado (óculos grossos e um gorro, fazendo as vezes de máscara) e sem enganar ninguém na sua identidade nada secreta, o Morcego Verde aparece aqui em apenas duas histórias. É mostrado como um delírio de um Zé fora de si, e com talento ainda menor que o do colega Vermelho para ser um combatente do crime.

Com o tempo, voltou a aparecer, sob os cuidados de outros autores e chegou a ter crossovers com o outrora ídolo. Em 1994, foi repaginado e teve um upgrade no uniforme (com máscara e capa, mas próximo do visual do Batman).

Mas aí era algo meio distante do despojamento e da autoironia de Saidenberg e Canini. Num traço muito mais caricato que o tradicional estilo Disney e, assim, muito mais pessoal, essas histórias do Zé Carioca eram uma ilha de visível autoria numa época em que os autores não eram creditados nos quadrinhos da casa do Mickey.

Classificação

5,0

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