Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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UNIVERSO DC # 11

1 dezembro 2008


Autores: A nova geração - Geoff Johns (texto), Dale Eaglesham (desenhos), Ruy José (arte-final) e Jeromy Cox (cores);

Dentro de você, sem você - Bruce Jones (texto), Renato Guedes (arte e cores);

Amaldiçoado - Bill Willingham (texto), Tom Derenick (desenhos), Wayne Faucher (arte-final) e Mike Atiyeh (cores);

Corvalho - Greg Rucka, Nunzio DeFilippis, Christina Weir (texto), Steve Scott (desenhos), Nathan Massengill (arte-final) e Santiago Arcas (cores).

Preço: R$ 6,90

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Abril de 2008

Sinopse: A nova geração - A Sociedade da Justiça revida os ataques aos seus parentes e amigos de membros e ex-membros do grupo. E no Brooklyn, em Nova York, Tom Bronson descobre o que significa ser o filho do Pantera.

Dentro de você, sem você - Enquanto faziam sexo, Mike contaminou Vienna, que agora porta o vírus Omac dentro de si - e se tornou, portanto, mais uma hospedeira do Irmão-Olho. Como se isso não bastasse, a noite do rapaz em uma casa invadida ilegalmente não é fácil: Superman bate à porta, sonhos esquisitos permeiam o sono e, de quebra, a polícia chega.

Amaldiçoado - O Demônio Azul monta um Pacto das Sombras paralelo para ir ao inferno em busca de seu tridente.

Corvalho - Pelo jeito, houve fraude nas eleições de Santa Prisca. Para piorar, Bane está metido no rolo. Por isso, o Xeque-Mate decide enviar Fogo e Tommy Jagger para resgatar o Coronel Computron. Afinal, o vilão afirmou numa transmissão que teria provas da corrupção no pleito. Mas, nos bastidores, os interesses pessoais na missão começam a vir à tona e podem pôr tudo a perder.

Positivo/Negativo: As histórias de Universo DC não dão moleza para quem recém se iniciou na longa saga dos personagens DC. Sociedade da Justiça, por exemplo, reúne heróis de terceiro escalão aos montes, gente que raramente aparece em filmes ou desenhos animados, que só dá as caras ali.

O Pacto das Sombras põe num só balaio seres místicos que mesmo os leitores mais fanáticos passaram anos a fio sem ver. Xeque-Mate junta integrantes e elementos de várias equipes dos anos 90, como a Liga da Justiça, o antigo Xeque-Mate e o Esquadrão Suicida, com outros personagens egressos da Sociedade da Justiça e mesmo de Batman.

Quem se dispõe a enfrentar esse mix de personagens e referências tem sido recompensado nas edições mais recentes, principalmente depois da incorporação da série Sociedade da Justiça. Esta edição é um exemplo: todas as histórias têm seus méritos.

Até mesmo O Pacto das Sombras, que tem uma história atípica, em que pouco acontece apesar de haver uma batalha iminente para o Demônio Azul, se sustenta pelos bons diálogos, que têm ritmo e graça.

A arte de Tom Derenick também é correta. Claro, é uma pena que não seja o traço estiloso do próprio roteirista Bill Willingham, que dava charme ao começo do primeiro arco. Mas, ao menos, não faz feio, mesmo diante da comparação.

As outras histórias desta edição são mais empolgantes. Até mesmo Omac, uma série bastante irregular, dá uma boa melhorada. As primeiras páginas ainda são esquisitas, como uma aparição sem sentido de Superman. Mas, em seguida, a trama engrena, até mesmo por conta da ótima arte do brasileiro Renato Guedes.

Vale a pena analisar como Guedes retrata o sexo entre Mike e Vienna. Ele não tem um corpo moldado a anabolizantes. Sua cueca (página 31, quadro 1) não é justa nem revela o formato da bunda. Chega a ser menos explícita que a calça de Detonador (página 9, quadro 5) nesta mesma edição. Vienna é linda e sexy. Beija pra valer (página 33, quadro 3). Quando está por cima de Mike, de sutiã e calcinha branca, sem rendas, é de babar (página 33, quadro 4). Mas seus seios têm um tamanho normal. Contrastam com os de Poderosa (página 25), Fogo (página 96) e Liberty Belle (página 27).

A forma como Guedes desenha evidencia a sensualidade, mas traz à tona uma velha característica dos quadrinhos de super-heróis: os personagens são sexualizados ao extremo, com roupas curtas e justas, músculos demais, peitos aos montes, decotes cavados. Mas, por outro lado, quase não há espaço para sexo de verdade nas tramas.

Os heróis acabam soando como personagens pornográficos, pois mostram tudo, mas muito pouco eróticos, porque não compartilham a sexualidade.

Às vezes, parece que o sexo até mesmo é uma forma de dominação ou vilania - alguns arquiinimigos volta e meia aparecem com mistos de serviçais e dominatrix a tiracolo.

A própria trama de Omac não dá espaço para o sexo. Nela, Vienna é condenada por conta de sua suposta promiscuidade: herdou um vírus e virou um monstro numa incubadora, prestes a se tornar uma aberração. Soa como uma metáfora mofada das tramas que retrataram a chegada da Aids nos anos 80.

A sensualidade do traço de Guedes, porém, não parece estar prevista no roteiro. A cena poderia ser desenhada da forma convencional, fria, pois é o mesmo tratamento que outros artistas dariam ao tema. Mas não é nada disso: são quadrinhos quentes, sinceros, verdadeiros.

O traço é mais do que uma opção estética. Eles revelam uma verdade que os criadores de super-heróis têm dificuldade de ver, e com a qual as editoras ainda não sabem lidar. É uma fronteira que ainda precisa ser ultrapassada.

A boa notícia é que, com a pressão da vida real, os quadrinhos de super-heróis têm conseguido mudar. Ainda que seja uma mudança lenta e gradual, ela aparece aqui e ali. Xeque-Mate é um exemplo disso. A série é bastante politizada, algo incomum pouco tempo atrás em séries regulares.

Nesta edição, a brasileira Fogo é envolvida em conseqüências da Operação Condor, uma aliança militar que tentou reprimir os opositores dos regimes militares da América do Sul nos anos 70. Seu pai é mostrado como um brasileiro rico. E, pelo final da história, envolvido com coisas que têm que ser mais bem explicadas.

De quebra, a trama é empolgante, e traz uma reviravolta no núcleo central do título. É daquelas raras HQs que dão vontade de esperar pelo mês seguinte para ver o desfecho.

Carro-chefe da revista, a Sociedade da Justiça também ajuda a fazer de Universo DC uma grande revista. Geoff Johns faz um de seus melhores trabalhos. E, como já é marca do autor, não passa de uma autêntica história de super-heróis. Mas é uma grande história, com muita ação, uma certa dose de drama (quando, por exemplo, o Detonador detona uma colega), mas também com uma grande valorização da mitologia dos uniformizados (as páginas 24 e 25 são ótimas para representar isso).

Depois de um começo conturbado, parece que Universo DC ganhou uma cara. É um título um pouco mais adulto, com boas histórias, voltado para leitores específico, que têm interesse em se aprofundar no Universo DC em si. É como se fosse clube hermético: há exigências demais para que um sócio seja aceito. Mas quem entra tem uma bela piscina para se divertir.

Classificação:

4,0

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