Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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VERÃO ÍNDIO

3 julho 2009


Autores: Hugo Pratt (roteiro) e Milo Manara (arte).

Preço: R$ 49,90

Número de páginas: 152

Data de lançamento: Abril de 2009

Sinopse: Shevah, uma jovem de Nova Canaã, é estuprada por dois índios na praia.

Abner Lewis, o segundo irmão mais velho de uma família de bastardos, vê a cena. Ele mata os estupradores e os escalpa.

Em seguida, Abner leva Shevah para se recuperar em sua casa. Mas as tumultuadas relações entre os moradores de Nova Canaã, os Lewis e o desejo de vingança dos índios apresentarão as mais diversas ligações e surpresas.

Positivo/Negativo: Existem momentos em que fica difícil descrever algumas obras. Parece que tudo já foi falado.

O que mais precisa ser dito sobre os roteiros do italiano Hugo Pratt? Muitos já os classificaram como geniais, com ritmo, conteúdo, diálogos maravilhosos, frases pra ler e reler, personagens complexos e interessantíssimos.

E o que ainda não foi dito sobre a exuberante arte do também italiano Milo Manara? Os elogios merecidos ao seu desenho preciso, seu controle narrativo, suas cores, suas expressões e a sensualidade em cada traço.

Então, o que pode ser dito de um álbum, como Verão índio, que traz a melhor forma desses dois mestres das histórias em quadrinhos? A obra foi até eleita, no Festival de Amadora, em Portugal, uma das 100 melhores HQs do século 20.

Só resta dizer: leia.

Leia e perceba. Perceba a sensacional história. Perceba cada uma das imagens. Perceba como tudo tem um ritmo e uma visualidade espantosa. Perceba como é possível fazer cenas de batalha, envolvendo diversos participantes e não usar nenhuma página dupla, nenhuma splash page, como é fácil notar ver o movimento e entender as ações de cada um dos personagens. Perceba as expressões de cada um daqueles rostos. Perceba também como as sequências mais dramáticas se sustentem sem uma única palavra ou onomatopeia na página. Está tudo lá, no precioso traço de Manara.

Com esse mesmo Verão índio em mãos, atente para os diálogos, para a distribuição das atitudes dos personagens, para os textos longos, para o encadeamento de cada cena. Veja como não existem ações gratuitas: se algo aconteceu agora, será reaproveitado mais adiante - como a bicada dada por um corvo em um índio. Toda essa narrativa cabe justa nas mãos de Pratt.

Esses elementos seriam suficientes por si para a classificação deste álbum como uma obra-prima. Mas ainda há um pouco mais: a diversidade narrativa, por exemplo. Ela se dá em tempo presente, com inserção de flashbacks - de cores mais amenas - e um final, como se fosse um epílogo, no qual um narrador identificado como H.P., mostra ao leitor o destino dos personagens e um levantamento de provas de que se trata de história verídica, criando uma relação com o autor do clássico de língua inglesa A letra escarlate.

Há ainda um prefácio falso do autor do livro O último dos moicanos, James Fenimore, exaltando o trabalho de Pratt e Manara.

Ressalte-se também o ótimo trabalho editorial da Conrad, que parece voltar ao mercado de quadrinhos com a força e o apuro que a tornaram popular.

Sem dúvida, mais uma obra pra lista dos melhores lançamentos de 2009.

 

Classificação:

4,0

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