Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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X #01

1 dezembro 2004


Título: X # 1 (JBC) - Revista mensal

Autores: Nanase Ohkawa (roteiro), Mokona Apapa (desenhos).

Preço: R$ 9,80

Número de Páginas: 200

Data de lançamento: Dezembro de 2003

Sinopse: O Destino deles já está definido - Passados seis anos, o jovem Kamui Shiroh está de volta à cidade de Tóquio.

Para a doce Kotoroi, no entanto, o aguardado regresso acaba por produzir uma grande desilusão : Kamui não é mais o mesmo, e revela-se dotado de poderes que o levam a se envolver num conflito de dimensões apocalípticas.

Positivo/Negativo: Escrever um review sobre uma HQ japonesa, o dito mangá, ou, mais especificamente, o primeiro tankohon lançado por aqui, não é tarefa das mais fáceis. Para estabelecer este texto crítico, uma primeira tarefa se faz necessária para quem cresceu lendo e, de certa forma, educou o olhar pop lendo gibis ocidentais: "esquecer" e não lançar mão de critério estéticos do mundo dos quadrinhos das Américas e Europa.

O fato de se ler esta HQ da direita para esquerda é um detalhe sem a menor importância, quando um leitor, do lado de cá do globo, defronta-se com outras técnicas de narração, paradigmas estéticos e artísticos.

Para que estas considerações sobre este interessante lançamento da JBC não se estendam, vale destacar um aspecto que, certamente, auxilia a compreensão do atual boom dos mangás na Europa, em especial na França e Itália, e no Brasil: a primazia dada aos desenhos, em detrimento do texto.

Para sustentar a afirmação feita acima, basta colocar sobre uma mesa duas HQs abertas, um mangá e um comic ocidental. É evidente que a quantidade de texto, no quadrinho ocidental é incrivelmente superior à do oriental.

No comic, os desenhos ali estão para ilustrar o texto, e as palavras do roteiro guiam a ação. No mangá, o texto, mínimo ou inexistente (como em Gon), tentam orientar o leitor na compreensão da ação. Ou seja, há primeiro o embate, ao qual a arte dá uma dimensão cada vez maior, e, depois, as palavras funcionando quase como legendas de cinema mudo.

Se há o esforço de elaboração de roteiros no Ocidente, para a estética mangá o importante é como se conta, por uma linguagem puramente visual, o mesmo enredo.

As seqüências de combate dos mangás não seguem a lógica ocidental da verossimilhança ou de um encadeamento por uma relação de causa e efeito. A ação é continua e imprevisível, atingindo o leitor por desenhos que destacam um processo de caótico fragmentação de tudo que envolvem os personagens: as lutas, se não destacam um perspectiva subjetiva deste ou daquele herói, colocam o leitor como espectador de um universo ficcional instável.

X, com suas ricas 200 páginas mensais, pode não ter o mesmo refinamento de Vagabond , mas é, sem dúvida, uma ótima opção para aqueles que pretendam se lançar na exploração do mistério envolvendo o sucesso dos mangás no Ocidente, e a crise de linguagem das HQs ocidentais.

Classificação:

4,0

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