Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
OUÇA
Reviews

X-MEN DEUS AMA, O HOMEM MATA

1 dezembro 2003


Autores: Chris Claremont (roteiro) e Brent Anderson (desenhos).

Preço: R$ 6,50

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Maio de 2003

Sinopse: Os alunos do professor Xavier, os X-Men, têm que enfrentar uma nova ameaça em duas frentes: em um dos fronts há um esquadrão da morte que persegue e mata friamente mutantes.

Por outro lado, o popular e influente reverendo Stryker, a partir de uma leitura deturpada dos evangelhos, prega o medo e terror contra os que possuem o fator X.

Positivo/Negativo: É uma pena poder presenciar e reviver a decadência de uma das fases mais criativas de uma HQ como a dos X-Men.

A era de ouro dos mutantes, republicada pela Mythos Editora, no formato almanaque, em preto e branco, tinha os roteiros de Chris Claremont, e desenhos de John Byrne e Terry Austin. Estes anos, segunda metade da década de 1970 e começo da de 1980, apresentaram a segunda geração dos aluno de Charles Xavier, aquela que tornou a série uma das principais publicações da Marvel, ao lado de Homem-Aranha e Hulk.

Para tanto, foram fundamentais os talento de Claremont que conseguira um raro equilíbrio entre propostas aparentemente tão díspares para uma HQ: roteiros que traziam aventura, debate ético e heróis humanizados.

Quem leu esta fase dos X-Men, publicados aqui pela antiga RGE, no princípio dos anos 80, viu os mutantes viajando por todo o planeta (como numa memorável história que os levou à Escócia) e pelo espaço sideral, ao lado dos Piratas Espaciais. Aventuras permeadas de muita fantasia que ganharam cenários concebidos pelo talento de Byrne e Austin: masmorras, naves espaciais alienígenas, vielas do Marrocos, florestas canadenses, planetas distantes, tempestades solares etc.

A nova geração de heróis apresentou-nos Wolverine, Tempestade, Banshee, Noturno, Colossus e a mutação da Garota Marvel em Fênix; personagens que marcaram todo Universo Marvel, por serem o resultado de um processo de aprofundamento da proposta original de Stan Lee, isto é, criar uma serie que realizasse um debate sobre a intolerância no mundo moderno, ao mesmo tempo em que fizesse drama com as inseguranças, falhas e vícios de todo e qualquer personagem do título.

Uma proposta ambiciosa. E, por isso mesmo, tinha tudo para dar errado. No decorrer dos anos 80 e 90, o universo mutante expandiu-se, ganhou novas gerações e equipes que atuavam em revistas próprias, e, é claro, Wolverine, talvez o personagem Marvel mais popular entre os leitores jovens, ganhou seu próprio título.

As aventuras desde período, motivadas por mirabolantes viagens no tempo, trouxeram um certo sentimentalismo exagerado e mal colocado, ao lançar perguntas óbvias sobre a repercussão no futuro de certos atos, além de separações que se multiplicavam aqui e ali.

Houve igualmente um acirramento das forças reacionárias contra o projeto de Xavier de uma convivência pacifica entre mutantes e homo sapiens, sem falar no vírus legado... Muito blá-blá-blá politicamente correto em meio a um clima de novela lacrimosa.

As vendas continuaram a crescer, mas o título nunca mais repetiu as glórias do passado recente. O que nos leva a presente republicação da Panini Comics! De 1982, a graphic novel Deus Ama, O Homem Mata já explicita os primeiros sinais de cansaço da formula de Claremont: a violência, considerada chocante na época, é apenas um artifício que não esconde um roteiro extremante mal estruturado e de desenvolvimento ainda pior.

A velha história da intolerância é novamente contada sem a menor ousadia. Prevalece o dualismo que, paradoxalmente, era um dos objetos de questionamento da criação de Stan Lee, ou seja, no lugar da pura e simples maldade, a ignorância é a razão do medo e conseqüentes conflitos.

E Claremont vale-se de conflitos primários, que envolvem fundamentalismo religioso e o poder dos meios de comunicação, para, de maneira muito piegas, com algumas pobres pinceladas, explorar dúvidas e anseios de alguns jovens mutantes.

A arte nada inspirada de Brent Anderson colabora para o desastre desta edição que, com o tempo, tornou-se pior.

Na ultima década, o universo mutante da Marvel tornou-se ainda mais popular pela adaptação em desenho animado e, principalmente, pelas duas ótimas versões cinematográficas, dirigidas por Brian Singer, que, mais uma vez, realizou a rara síntese entre aventura, política e super-heróis de características humanas!

Vale mais a pena investir nos almanaques de republicação da Mythos!

Classificação:

4,0

Leia também
Já são mais de 570 leitores e ouvintes que apoiam o Universo HQ! Entre neste time!
APOIAR AGORA