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Influências dos quadrinhos no mundo real

24 novembro 2015

Não é raro algum fã de quadrinhos afirmar que sua vida foi afetada por um personagem. Seja pelo que leu em uma HQ ou mesmo por todo o conjunto de características de personalidade que formam uma criação dos gibis, há leitores que, de uma forma ou de outra, foram transformados ou moldados por seu ídolo de tinta e papel.

Mas as influências dos personagens de quadrinhos podem ser muito mais marcantes e afetar a sociedade em geral, não apenas o comportamento de um indivíduo.

É o que expõe um artigo escrito por Mark Juddery, publicado numa edição da revista norte-americana Mental Floss. O texto cita cinco casos de interferência tão direta quanto positiva desses seres fictícios no mundo real.

O primeiro caso, envolvendo o Superman, já se tornou clássico. O Homem de Aço foi decisivo na luta da sociedade contra a Ku Klux Klan, a famosa e cruel seita racista dos Estados Unidos. No final dos anos 1940, a KKK estava em ascensão e um dos roteiristas do seriado radiofônico do Homem de Aço resolveu colocar o herói em uma cruzada contra o preconceito racial.

Programa de rádio do Superman

O roteirista se infiltrou na seita, aprendeu os códigos, sinais, modus operandi e outros detalhes até então secretos e os divulgou em um episódio de The Adventures of Superman, repetindo o tema em outros capítulos. O resultado foi a desestabilização da KKK, que diminuiu consideravelmente suas ações e reduziu o recrutamento a zero. Recentemente, o fato virou tema de um livro lançado nos Estados unidos.

Rei do Crime, arqui-inimigo do Homem-Aranha e do Demolidor, também entra na lista.

Em uma edição da revista do "Amigão da Vizinhança", publicada em 1977, o vilão lutou contra o herói e usou nele um bracelete de monitoramento.

Fora do gibi, um juiz do Novo México comprou a ideia e solicitou a criação desse dispositivo que desde 1983 é usado em suspeitos que aguardam julgamento ou como uma alternativa ao encarceramento em casos de crimes leves.

Wilson Fisk, o Rei do Crime

Até o Capitão Marvel Jr. tem algo a ver com um rebuliço, ou melhor, "rebolado" na vida real. O lendário cantor Elvis Presley era fã do personagem e se inspirou nele para compor o indefectível penteado consagrado como o mais famoso estilo de cabelo do século passado, que encantou as mulheres em todo o planeta e era imitado pelos homens.

O visual de super-herói que o astro do rock usava nos últimos anos de carreira também seria inspirado no sidekick do Capitão Marvel (Shazam).

E não apenas os super-heróis da Marvel e da DC figuram nesse rol de influências. O marinheiro Popeye também faz parte dela, desde que ajudou os Estados Unidos a sobreviver à Grande Depressão, a crise econômica que eclodiu em 1929.

A superforça do personagem nunca havia sido explicada (na verdade, ele esfregava a crista de uma galinha mágica para ficar forte), até que, em 1930, o governo dos Estados Unidos, que procurava um substituto - rico em ferro - para a carne na alimentação da população naqueles tempos difíceis, promoveu o espinafre nas tiras e nos desenhos animados do Popeye, fazendo-o revelar o segredo de seu prodigioso poder.

Popeye

Em pouco tempo, as crianças alçaram o espinafre ao terceiro lugar em sua lista de alimentos preferidos, atrás apenas de peru assado e sorvete.

A iniciativa também tinha o objetivo de incentivar o uso de comida em conserva nos quartéis militares, perfeita para estocar em emergências.

Finalizando a lista, o Pato Donald, que em 1949, 16 anos antes de o holandês Karl Kroyer criar o método das bolinhas de pingue-pongue para resgatar navios naufragados, já havia feito isso na história The Sunken Yacht (no Brasil, Quem nasceu pra tostão..., republicada em 2007 na revista O melhor da Disney - As Obras Completas de Carl Barks - Volume 25, da Editora Abril).

The Sunken Yacht

Mark Juddery poderia ter citado muito mais exemplos em seu texto, como o de Flash Gordon e a minissaia e o design das naves nas tiras do personagem - inspiração para, respectivamente, o estilista André Courrèges e a agência espacial norte-americana Nasa.

Ainda assim, o artigo tem argumento suficiente para mostrar que, além de diversão e cultura, os quadrinhos têm o poder de mudar o mundo.

É ler para crer.

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