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Entrevistas

Um retrato fiel do mercado

3 março 2001

Entrevista: Devir Livraria e Editora

com Douglas Quinta Reis (Editor)

Devir Livraria

Universo HQ: Qual sua opinião sobre o mercado de quadrinhos no Brasil hoje? O que esperar desse mercado no próximo ano.

Douglas Quinta Reis: O mercado de quadrinhos, hoje, está mais parecido com o mercado de quadrinhos de 1991, quando Martins Fontes e LP&M publicavam diversos títulos ao ano. Ou seja, um mercado que anda na direção dos livros e se afasta das revistas. É difícil dizer quanto tempo vai durar essa tendência, mas, com certeza, essa será a direção do mercado em 2001.

UHQ: Quais os principais problemas que você vê no mercado nacional? O que deveria ser acontecer para mudar esse panorama?

Douglas: Num mercado que está andando na direção dos livros, o maior problema é não existir, na grande maioria das livrarias, um espaço definido para livros de quadrinhos. O que precisa ser feito é mostrar às livrarias que histórias em quadrinhos são um produto importante, que tem um público que consome seus produtos e, portanto, que vale a pena elas dedicarem um determinado espaço para este tipo de literatura.

UHQ: Qual o balanço que a sua editora faz do ano 2000?

Douglas: É difícil fazer uma avaliação sem ter um termo de comparação. 2001 foi o primeiro ano no qual publicamos quadrinhos de verdade. Antes disso, havíamos lançado apenas dois outros livros de quadrinhos, um por ano. Neste ano, foram cinco livros, que conseguiram uma boa repercussão e tiveram um bom desempenho de vendas. Tenho a impressão que foi bom.

UHQ: Quais os planos de sua editora para 2001?

Douglas: Estamos planejando continuar investindo em histórias em quadrinhos. Isto significa aumentar o número de títulos e procurar trazer obras significativas na história das histórias em quadrinhos. Nossos planos incluem publicar, pelo menos, 11 livros relacionados com histórias em quadrinhos este ano.

UHQ: Hoje a história em quadrinho é um produto caro. É possível reverter esse quadro ou a tendência é isso se manter?

Douglas: Claro que o preço está diretamente relacionado com a tiragem. Se as tiragens aumentarem, os preços relativos diminuirão, com certeza. Uma questão a discutir é se histórias em quadrinhos são de fato um produto caro.

UHQ: Mesmo nessa tremenda crise, poucas vezes tivemos tamanha variedade de lançamentos. O leitor pode optar entre super-heróis, europeu, manga, quadrinhos adulto, mas todos com tiragens baixas. Como você encara essa segmentação?

Douglas: O fato é que toda essa variedade de gêneros de HQ já existiu em alguns outros momentos da história das HQs no Brasil. Ele significa que, neste momento, existem diversas editoras que acreditam que histórias em quadrinhos são um gênero de publicação que vale a pena trabalhar, seja pelo motivo que for, lucro financeiro, satisfação pessoal ou qualquer outro. Esta variedade é benéfica em diversos sentidos, desde a possibilidade de atrair leitores que, normalmente, não lêem histórias em quadrinhos; até a intensificação da divulgação na mídia do que está acontecendo na área.

UHQ: Por muito tempo, os quadrinhos de super-heróis dominaram o mercado nacional. Você acha que essa diversidade de títulos é sinal de que eles estão em decadência?

Douglas: Não sei dizer se os super-heróis estão em decadência ou não. Mas essa diversidade de títulos está ocorrendo nas livrarias; e não nas bancas de jornais, que sempre foram o reduto dos super-heróis. Não acredito que uma coisa esteja substituindo a outra. Acredito, sim, que estejamos falando de um outro público de quadrinhos (que, é claro, pode ter intersecção com o público de super-heróis).

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UHQ: Você acha que a falta de revistas e críticas especializadas no setor afeta o mercado?

Douglas: Acho que a falta de revistas e críticas especializadas no setor é um sintoma do mercado.

UHQ: Qual sua opinião sobre a distribuição no Brasil?

Douglas: Para nós, é difícil falar de distribuição de revistas em bancas de jornais, porque não atuamos neste mercado. No mercado de livrarias, distribuímos nossos livros e os de outras editoras e sentimos que a maior dificuldade é fazer circular a informação. Precisamos caminhar todos na direção de os editores conhecerem bem os livros que estão editando, distribuidores saberem o que estão distribuindo e as livrarias conhecerem o que estão vendendo.

UHQ: Os quadrinhos estão cada vez mais migrando para as livrarias. O que você acha desse nicho?

Douglas: Essa é uma pergunta interessante, que exige uma explicação anterior. Da mesma maneira que lemos jornais e revistas, que têm em si informações de consumo rápido; e procuramos nos livros textos sobre os quais temos de refletir mais longamente, acho que as livrarias são o espaço natural para as histórias em quadrinhos de um tipo especial, que chamarei de “literárias”, para distinguir das histórias de consumo rápido, que serão esquecidas na semana que vem, quando eu ler a próxima. Isto acontece no Japão com os mangás (os melhores são reeditados na forma de álbuns); nos EUA, com os TPs; e acontecia na Europa, na época da Metal Hurlant, Cimoc, El Víbora etc…

UHQ: A Devir atua no segmento de livrarias e bancas especializadas, qual a situação da editora nesse mercado?

Esta eu respondo na questão abaixo!

UHQ: A competição no mercado de livros parece estar mais acirrada do que nas bancas. Como você vê a posição de editoras como a Meribérica, a Conrad, Via Lettera, Tendência e outras que estão entrando no setor?

Douglas: Como disse, não vejo que as editoras devam competir por um mercado que nem existe ainda. O que precisamos fazer, juntos, é convencer as livrarias de que histórias em quadrinhos são um produto com prestígio na imprensa, que vende e merece um lugar na prateleira. Este é o trabalho mais urgente. Depois que isto tiver sido feito, as editoras podem concorrer entre si pelo mercado.

UHQ: Vocês têm planos para atuar em bancas no Brasil?

Douglas: A Devir não tem planos de curto prazo de atuar em bancas no Brasil.

UHQ: A situação econômica hoje é desfavorável para os quadrinhos no Brasil, o preço de suas edições é um problema?

Douglas: O preço dos livros é sempre um problema. Foi fácil constatar isso na Bienal do Livro, quando lançamos os álbuns dos Skrotinhos e da Aline. As pessoas queriam comprar os livros, mas não tinham dinheiro para fazê-lo.

UHQ: Como estão as outras atividades da Devir (publicação de super-heróis em Portugal, RPG e importação de quadrinhos importados)?

Douglas: A verdade é que estamos começando a atuar como editora de quadrinhos em todos os mercados. Na área de RPG, tanto as lojas especializadas quantos as livrarias em geral sabem o que fazer com o livro que nós vendemos, já existe uma relação. No caso da Devir distribuidora de revistas importadas, isto também é verdade. No caso da Devir editora de histórias em quadrinhos, esta relação está sendo construída agora. Estamos todos aprendendo a trabalhar juntos e isto tudo me parece muito promissor.

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