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Em primeira mão – Ian Gordon estará nas Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos

26 março 2015

A organização das 3as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos informou em primeira mão ao Universo HQ que Ian Gordon é o terceiro convidado internacional do evento.

Ele é professor em Singapura e autor de dois livros importantes no segmento de quadrinhos, ambos ainda inéditos no Brasil: Comic Strips & Consumer Culture, sobre como as tiras ajudaram a aumentar as vendas dos jornais norte-americanos nas primeiras décadas do século 20, e Film and Comic Books, em que aborda a relação entre cinema e HQ. E é este último tema que ele irá abordar no congresso.

Além dele, já foram divulgadas as participações de Paul Gravett  (autor de Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos, lançado no Brasil pela Conrad), que irá falar sobre mangás - segundo ele, está finalizando uma segunda obra sobre o tema; e Trina Robbins, quadrinhista e autora especializada sobre o papel das mulheres nos quadrinhos.

A terceira edição do congresso será realizada entre 18 e 21 de agosto deste ano, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Interessados em apresentar trabalhos em comunicações devem visitar o site oficial – as inscrições seguem até o próximo dia 13 de abril.

O congresso, iniciado em 2011, já se tornou o maior da América Latina na área de quadrinhos e tem como principal proposta servir de ponto focal para as pesquisas sobre histórias em quadrinhos produzidas em diferentes regiões do país e também no exterior. A organização é de Waldomiro Vergueiro (Universidade de São Paulo), Paulo Ramos (Universidade Federal de São Paulo) e Nobu Chinen (Faculdades Oswaldo Cruz).

Ian Gordon

Para falar sobre as jornadas, o Universo HQ conversou com o Professor Waldomiro Vergueiro, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP e um dos organizadores.

Universo HQ: Em apenas três edições, o congresso já é o maior do gênero na América Latina. O senhor esperava esse sucesso?

Waldomiro Vergueiro: Confesso que não esperava um sucesso tão grande. Eu tinha conhecimento de que existia um grande interesse pela pesquisa em quadrinhos no Brasil. A cada ano, participo de dezenas de bancas de mestrado, doutorado, TCC sobre o tema, nas mais diversas regiões do Brasil, nas mais diferentes áreas do conhecimento. Assim, quando pensamos em organizar o evento, sabíamos que tínhamos condições de congregar um bom número de pessoas. Mas nossas estimativas mais otimistas chegavam a 80 ou, no máximo, 100 participantes. No entanto, desde a primeira edição das jornadas, esses números foram muito maiores. Isso, para nós, é um indicador de que faltava um espaço acadêmico específico para discussão dessas pesquisas, um espaço no qual os pesquisadores possam se encontrar com seus pares e trocar ideias com colegas que sabem sobre o que eles estão falando.

Normalmente, os pesquisadores de quadrinhos se dispersam em eventos de outras áreas, muitas vezes tendo que dividir mesas com trabalhos sobre cinema, televisão, literatura, música etc. O grande número de trabalhos encaminhados às primeiras jornadas, o número de pessoas que participou, o nível das discussões, tudo isso evidenciou que as jornadas surgiram num momento de maturidade da pesquisa em quadrinhos. Estamos muito otimistas em relação às 3as Jornadas.

UHQ: O cenário dos quadrinhos nacionais mudou demais nos últimos anos. Isso se reflete nos trabalhos apresentados?

Waldomiro: Eu diria que não apenas o dos quadrinhos nacionais. No mundo inteiro, os quadrinhos passaram a ter, especialmente a partir do final dos anos 1900 e início dos anos 2000, um status mais privilegiado em termos de reconhecimento cultural. Eles deixaram de ser segregados nas bancas de jornais e comic stores e invadiram as livrarias, atingindo um público novo e mais exigente. Passaram a trabalhar temáticas que antes se pensava não teriam condições de abordar.  A isso, deve-se acrescentar a nova leva de produções cinematográficas baseadas em histórias em quadrinhos, que ampliaram a popularidade do meio. No cenário nacional, também pudemos ver a entrada das histórias em quadrinhos em livrarias, a inclusão de histórias em quadrinhos em programas estaduais e nacionais de distribuição de livros para escolas, o incentivo governamental para projetos culturais de produção de quadrinhos, um maior interesse das editoras em publicar HQs, principalmente visando a compra pelo governo, dentre outras coisas.  Tudo isso ajudou a incrementar a produção nacional, que colocou no mercado, nos últimos anos, material de grande qualidade. Essas mudanças todas surgem claramente nos trabalhos apresentados nas jornadas. Os pesquisadores são muito ágeis na identificação de trabalhos que representam uma contribuição efetiva para o meio.

UHQ: Como foi a interação com os convidados internacionais nas jornadas anteriores? O que eles acharam do evento?

Waldomiro: Todos os nossos convidados internacionais foram unânimes em admirar a quantidade de interessados nos eventos, a qualidade dos trabalhos apresentados e o entusiasmo de todos os participantes.

UHQ: A produção de livros teóricos sobre quadrinhos no Brasil ainda é tímida. Existe alguma perspectiva desse quadro melhorar?

Waldomiro: A baixa produção de livros teóricos é reflexo da situação do País. Livros teóricos vendem bem menos que obras de literatura e, por isso, muitas vezes têm maiores dificuldades para ser aceitos por editoras. Mas, felizmente, essa situação vem mudando na área de quadrinhos. A produção de livros teóricos sobre o tema cresceu exponencialmente nos últimos anos. Nós temos tentado contribuir com esse mercado, incentivando os pesquisadores a transformar o resultado de suas pesquisas - teses e dissertações - em livros teóricos, adaptando-os para um público mais amplo. Também priorizamos, nas jornadas, o lançamento de livros teóricos, entendendo que elas são um espaço privilegiado para divulgá-los. Acredito que o crescimento da pesquisa em quadrinhos no País, o aumento de eventos específicos e o crescente interesse por parte do público vão colaborar para que a produção de livros teóricos cresça cada vez mais.

UHQ: Qual é a maior contribuição das jornadas para o mercado nacional de quadrinhos?

Waldomiro: As Jornadas representam um momento de reflexão sobre os quadrinhos e como eles afetam os vários aspectos da sociedade. Queremos que elas alimentem a discussão sobre os rumos do mercado nacional de quadrinhos, discutindo suas principais produções, questionando as tendências seguidas pela indústria, colocando na berlinda os autores mais significativos, sensibilizando os leitores quanto às características da linguagem dos quadrinhos e incentivando a produção de novos trabalhos. Penso que temos sido bem sucedidos nesses objetivos.

A arte do cartaz do evento, que o leitor confere abaixo, é do quadrinhista e ilustrador Will.

Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos

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