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Antes de Watchmen – Volume 5 – Comediante

1 novembro 2013

Antes de Watchmen – Volume 5 – ComedianteEditora: Panini Comics – Maxissérie mensal

Autores: Coruja – Brian Azzarello (roteiro), J.G. Jones (desenhos), Alex Sinclair, Tony Aviña e Lee Loughridge (cores) – Originalmente em Before Watchmen – Comedian # 1 a # 6;

A condenação do Corsário Carmesim – John Higgins (roteiro e desenhos) – Originalmente em Before Watchmen – Dr. Manhattan # 2, Minuteman # 4, Ozymandias # 4, Rorschach # 2 e Silk Spectre # 4.

Preço: R$ 14,90

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Setembro de 2013

Sinopse

Comediante – Por décadas, o aventureiro mascarado Comediante agiu no submundo do planeta para manter a hegemonia mundial de seu país, mesmo que (ou especialmente quando) suas ações não pudessem ser chamadas de “éticas”.

O mal que fazem os homens... - Parte três e Amplas eram suas asas de dragão - Parte um – Depois de obter o primeiro dos três itens em troca da liberdade de sua alma, o oficial júnior da marinha real inglesa continua sua missão maldita em uma ilha habitada por uma tribo que faz sacrifícios humanos.

Positivo/Negativo

Os personagens mais aclamados pelos fãs na obra de Alan Moore e Dave Gibbons são Rorschach e o Comediante, principalmente pelas suas visões de como as engrenagens do mundo funcionam e por suas noções de ética e moral bem distintas.

Foi escalado Brian Azzarello, criador ao lado de Eduardo Riso, da ótima série 100 Balas, para mostrar recortes da vida pregressa de ambos em relação aos fatos ocorridos em Watchmen. Os resultados – com o perdão do trocadilho – foram sem graça.

Muitos podem até “torcer o nariz” vendo Edward Blake, o Comediante, ao lado da família Kennedy no começo da história. Até uma das minisséries, dedicada ao Dr. Manhattan, mostrou que essa aliança seria possível (em uma dessas visões do personagem azulado, o mundo seria vítima da hecatombe nuclear, caso JFK fosse assessorado pelo Comediante).

Mas como todo “bom moço” (no caso, o jovem presidente democrata) tem também seu perfil de “mau” (vide em obras como O Lado Negro de Camelot - O sexo e corrupção na Era Kennedy, escrito por Seymour M. Hersh), não deixa de ser provável que o personagem seja um aliado que faça o trabalho sujo, assim como o papel da CIA nessa época.

O que soa forçado – e vai drasticamente contribuir para causar um efeito dramático maior no (ridículo) desfecho e na espinha dorsal da narrativa – é a relação de Blake com os Kennedy, a ponto de ser bastante íntimo de alguns membros da família, acabando com a dualidade do personagem.

Com essa postura, é interessante notar que a HQ vai contra a versão cinematográfica lançada em 2009, a qual revela ser o próprio Comediante o assassino do 35º presidente norte-americano, ocorrido no ano de 1963, em Dallas, Texas.

Mesmo não explorando bons ganchos, como a relação do protagonista com Sally Júpiter ou o Comediante descobrindo os verdadeiros planos de Ozymandias na obra original, Azzarello optou por mostrar o lado “errante” (alusão à música de Ernie Maresca, The wanderer, colocada na HQ) e reacionário do personagem no período do Vietnã, antes da intervenção do onipotente Dr. Manhattan.

A selva vietnamita não é um terreno novo para o escritor estadunidense: ele já havia trabalhado com histórias de guerra como Sargento Rock - Entre a morte e o inferno (Opera Graphica), dentre outras.

No conflito, o Comediante pode exercer seu lado mais “republicano”, digamos. Com seu pensamento unilateral e amoral de querer por um fim à guerra, ele tem uma caracterização mais próxima da original, mesmo com um tanto de exagero de Azzarello no tom do discurso e nas ações.

O mais interessante é mostrar como são demarcadas as jogadas políticas, como a situação do exército norte-americano, que busca meios ilícitos de financiar a guerra, ou a estratégia de manipulação de Nixon.

Talvez a principal armadilha que faz de Antes de Watchmen – Comediante uma HQ abaixo da média seja o próprio personagem. O seu cinismo de visão do mundo traçado na obra original o faz ser interessante, mas, em contrapartida, a sua áurea de dualidade e mistério também é um ponto forte no seu perfil. Revelar ou definir suas motivações é como pisar em campo minado, se não for colocado de maneira coerente.

A sua “escalada” para se tornar de fato o Comediante de Watchmen não convence, mostrando que, pela segunda vez, Azzarello desperdiça muito mais páginas (a minissérie foi em seis edições lá fora) com um exercício de criatividade quase nulo, salvo detalhes interessantes ao redor da narrativa.

Dentre as curiosidades históricas, a HQ mostra o embate entre Muhammad Ali e Sonny Liston nos ringues, em 1964, a morte da sexy symbol Marilyn Monroe e até uma referência a George Herriman, quando o Comediante é atingido por um tijolo fabricado na “Herriman’s Brick”, nas manifestações em solo norte-americano (para quem não sabe, o cartunista criou a série Krazy Kat, na qual um rato joga tijolos na cabeça da gata).

A arte de J.G. Jones não chama a atenção e é meramente funcional, sem grandes momentos ou ousadias.

Por fim, continua a saga de A condenação do Corsário Carmesim, desta vez corretamente creditada somente a John Higgins (Len Wein abandonou o projeto desde a última parte, que saiu no encadernado de Antes de Watchmen – Rorschach).

Continua o longo falatório, bons desenhos e a sensação de ser um mero “tapa-buraco”, sem nenhuma lufada de originalidade.

Classificação

2,0

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