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Peter Pan – Volume 3

11 abril 2014

Peter Pan – Volume 3Editora: Nemo – Série em três volumes

Autor: Régis Loisel (roteiro e arte) – Originalmente em Peter Pan – Crochet e Peter Pan – Destins (tradução de Fernando Scheibe).

Preço: R$ 69,00

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Novembro de 2013

Sinopse

O autodenominado Peter Pan, líder dos seres da Terra do Nunca, continua sua luta contra os piratas do Capitão, agora com o reforço dos órfãos londrinos.

Nas suas idas e vindas ao “mundo real”, o menino que não quer crescer volta a se deparar com alguns fatos inevitáveis da sua existência.

Positivo/Negativo

Com os tomos Gancho e Destinos deste volume, acaba a premiada releitura do francês Régis Loisel, que voa livremente da obra homônima de sir J. M. Barrie.

Apesar de não ter literalmente os batismos corriqueiros criados pelo dramaturgo inglês, como a Terra do Nunca, o Capitão Gancho e os Garotos Perdidos, o quadrinhista não ignora tais elementos e acrescenta muitos outros, inclusive uma figura bem famosa na Era Vitoriana que faz um interessante paralelo dúbio com o personagem principal.

O norteamento dado por Loisel é sombrio e por vezes chocante, deixando também assuntos inacabados – ou melhor, abertos – junto com uma dúvida no ar que cabe ao leitor interpretar da melhor forma. Essas decisões indefinidas e ousadas podem causar certo estranhamento.

O que vem sendo pautado desde o primeiro capítulo da série (veja aqui e aqui as resenhas dos dois volumes anteriores), a figura materna, ganha intensidade nas últimas partes da saga.

A carência do seio materno, que pode ser acalentado desde a presença de uma simples fotografia ou pelos cuidados representados na figura de Rosie, órfã que faz o papel matriarcal da Wendy junto com os Garotos Perdidos (mas sem a instrução da personagem original), é fator primordial para a condução e explicação de vários acontecimentos da saga de Peter Pan.

Um exemplo é quando os órfãos não sabem o que fazer com um dos garotos, devido a um trauma que acarretou na ausência materna. “Inocentemente”, sem alguma instrução, eles planejam como vão matá-lo, já que o pequeno catatônico está se transformando em um estorvo no “paraíso”.

Uma curiosidade é a forma como funciona a Terra do Nunca de Loisel. Sem a noção do tempo, o esquecimento é uma força tão poderosa quanto à imaginação no lugar.

Personagens como a sexy e renascentista Sininho, cujas ações podem ser mal interpretadas pela sua conduta ciumenta em relação ao protagonista, pode ser entendida como a sua natureza, bem como os comentários e intenções das sereias locais.

O volume também tem um “alívio cômico” nas sequências dos piratas, principalmente quando o Capitão e sua tripulação se deparam com o crocodilo. Destaque para o Barrica com suas ideias e bajulações de sempre.

Com seu Peter Pan irresponsável, vaidoso e pretensioso, o autor traça com sua bela arte europeia um complexo estudo com ares freudianos do personagem.

Os ares sombrios, cruéis e duros de Loisel ainda abrem espaços para enaltecer os maiores tesouros da humanidade: a imaginação e a preservação da inocência, mesmo sendo reservada para alguns, mesmo sendo tomada a pulso pelo garoto que não quer crescer nunca.

A edição da Nemo é mais uma reprise de qualidade presente nas anteriores: capa dura, formato grande (24 x 32 cm), papel couché e boa impressão, mas sem uma apresentação do trabalho ou uma biografia do autor, o que faz falta para complementar esta excelente e inusitada versão de um clássico.

Classificação

4,0

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